NO INÍCIO DA NOITE!
O ar na cidade anda irrespirável. É impossível permanecer dentro de casa, o calor, durante o dia, sufoca e, à tardinha, sopra um vento frio, tentando dispersar a poluição... em vão. À noite, o sono demora para acontecer. Me viro e reviro na cama, procurando os braços de Morfeu abertos para mim...inútil! A tosse irritante, torturando minhas cordas vocais, quase não me permite respirar... sufoco! Sete horas da noite. Uma noite que promete mais uma jornada de insônia e incômodo físico e mental.... explodo! Passo a mão em meu tênis – inseparável – coloco uma roupa confortável, porchete na cintura, com uma identificação – nunca se sabe o que pode acontecer nessa cidade – celular ligado, bem escondido dos malfeitores, e saio. Para não morrer de tédio. Caminho por vias iluminadas – que no escuro, as calçadas, esburacadas, oferecem perigo constante.
- Tia, me dá um trocado pra comer um lanche? Tô com fome! É a primeira menina, mal vestida – trapos, na verdade – interceptando a minha caminhada. Será fome ou necessidade de cheirar um pitaco de cola. Nesse caso, se eu lhe der dinheiro, estarei contribuindo para o aumento do crime. E, se me negar? Esse meu gesto, diminuiria a criminalidade? Mas eu saí sem nenhum na porchete. É apenas uma caminhada, ao ar livre, no sereno da noite. Pra quê dinheiro? Quando dei por mim, andava a passos tão rápidos, quase uma corrida, que senti meu peito arfando. Êpa! Vamos diminuir o ritmo. Resolvo dar meia volta – já se aproxima um vento mais frio e percebo que já andei por mais de uma hora, sem me dar conta. Caminho de volta. Centro nervoso da Capital. Nossa, como vim parar aqui nesse horário? Medo? Não tenho...
As ruas são tão movimentadas que seria o lugar menos provável para acontecer-me algo desagradável, como assalto, por exemplo. Os ladrões preferem atacar em ruas ermas, escuras, onde os menos desavisados necessitam circular. Já no centro da cidade, não! Vendedores ambulantes desarmam suas barracas, a Mãe de Santo – no Viaduto do Chá – conta seus trocados e coloca em uma bolsinha de mão, apanha sua cadeira, a peneira e os búzios, preparando-se para retornar a sua casa. Será que rendeu hoje? Valeu a pena a moça tentar adivinhar o que reserva o futuro dos passantes desesperados?
Quanto mais crises, maior número de desempregados – e desocupados – maior a procura dos “videntes” para se ler a sorte, almejando uma notícia boa. Um emprego, quem sabe, o amante que se foi, a mulher que trocou o marido pelo vizinho... Divagando, quase tropeço em alguns meninos, drogados e largados à própria sorte, na calçada. O celular toca, mas não atendo. Aí já é demais, brincar com a minha boa estrela, em meio à Praça da República, por onde cortei caminho. A essa hora, o cenário se transformou por completo. Metamorfose plena!
Já se avizinha a cara noturna da cidade. Bêbados, prostitutas, travestis, “fazendo a vida”, gigolôs, malfeitores. O comércio fecha as portas do progresso e abrem-se as portas da perdição, dos vícios do sub-mundo! É hora de voltar. Não sou da noite!
Estou exausta! Não vejo a hora de transpor a porta de meu apartamento – a minha casa – onde o ar seco continuará insuportável, talvez o sono não venha... mas é onde a segurança de um lar me conforta. Sinto-me segura, em meu habitat, onde me espera uma boa chuveirada, cama e lençóis limpos, a TV Digital - caso eu queira curtir um bom filme – ouvir MPB em volume aceitável, Chico cantando “O meu pai era paulista, meu avô pernambucano...” e Bethânia, juntamente com Alcione, declamando “O meu amor...” outra poesia de Chico. Quem sabe, terminar aquele Livro, que comecei ontem. É ali o meu lugar! É onde me refugio para lutar contra meus fantasmas, onde busco respostas para meus questionamentos, onde me escondo - quem sabe - de mim mesma. Onde posso manter meu silêncio, o quanto quero.
É onde encontro a minha tranqüilidade, a mesma que os meninos largados nas calçadas, não encontraram – e as perspectivas são ínfimas!
"RIQUEZA E FELICIDADE!"
(Emmanuel)
"Há ricos de dinheiro, tão ricos de usura, que se fazem mais pobres que os pedintes da via pública que, muitas vezes, não dispõem sequer de um pão.
Há ricos de conhecimento, tão ricos de orgulho, que se fazem mais pobres que os pobres ainda insulados nas trevas da inteligência.
Há ricos de tempo, tão ricos de preguiça, que se fazem mais pobres que os pobres escravizados às tarefas de sacrifício.
Há os ricos de possibilidades, tão ricos de egoísmo, que se fazem mais pobres que os pobres irmãos em amargas lutas expiatórias, que de tudo carecem para ajudar.
Há os ricos de afeto, tão ricos de ciúme, que se fazem mais pobres que os pobres companheiros em prova rude, quando relegados á solidão.
Lembra-te, pois, de que todos somos ricos de alguma coisa ante o Suprimento Divino da Divina Bondade e, usando os talentos que a Vida te confia na missão de fazer mais felizes aqueles que te rodeiam, chegará o momento em que te surpreenderás mais rico que todos os ricos da Terra, porquanto entesourarás no próprio coração a eterna Felicidade que verte do Amor de Deus!"