Viagem quase fantasiosa
Edson Gonçalves Ferreira
Acordei cedo, pensando na Malubarni, na Sônia Ortega,
na Susana Custódio, na Fernanda Araújo, na Celina, na Tera, na Sunny, na Claraluna, no Zé Albano, enfim no pessoal do Recanto. Era uma revoada de poetas na minha cabeça e, ainda, eram cinco horas da manhã. Ao lado da minha cama, pude ver o sorriso maroto da Emília que, assanhada, perguntou, bocejando: _Levantando cedo assim para quê, poetinha?
Não respondi. Troquei a roupa de cama para a lavadeira lavar. Fiz meu café. Deixei um bilhete para minha secretária do lar e, depois, peguei o carro para buscar o motorista para ir até Belo Horizonte, porque detesto dirigir em estradas congestionadas. Minha cabeça de poeta prefere se preocupar com outras coisas, embora, às vezes, mentalmente, eu troque as marchas, pise no acelerador e freio também.
A estrada estava linda, cheia de neblina e o sol nascia colocando cor-de-rosa por todo o céu. Chegamos na horinha que marquei para meus compromissos na Capital e, depois, às 9h30min, certinho, como eu previa, voltávamos. No carro, ouvíamos Milton Nascimento e eu jogava conversa fora, principalmente sobre política. Lembrava-me de Elis: "Tá cada vez mais down no hight society, down, down, down... Tem muito aiatolá para atolá, Alá!"
Quando chegávamos perto de Itaúna, não é que passou uma baita caminhão que tinha feito um carregamento de pedras e, então, mandou um baita preta no pára-brisa do meu carro. O barulho foi assustador. Achávamos que era na lataria e, depois, vimos o estrago no vidro. Pensei em Deus e agradeci, pelo menos, nada acontecera conosco e da estrada, liguei para a concessionaria para me aguardar.
Deixei o motorista e casa e fui para a concessionária da
Chevrolet e, ali, com muito amor, fui atendido pelas belas meninas, algumas minhas ex-alunas, ligaram para a seguradora, me deram o número do sinistro e fui para a Vidrex deixar o carro, por quatro horas para arrumar. Deixaram-me em casa e já eram duas horas. Liguei para o meu serviço e justifiquei a minha ausência.
Às 16h30min, fui buscar o carro. Paguei a taxa que me competia e fui à padaria. O alarme disparou. Desliguei. Olhei o meu celular e vi que ele não tocava a música no despertador. Fui olhar com o Carlinho Pirfo. Enquanto issso, o alarme disparou de novo. Abri o carro. Peguei o celular e voltei na Vidrex para ajustarem o alarme do carro, enquanto eu ajustava o alarme do celular. Aí, percebi que o som do carro sumira. Os funcionários competentes da Vidrex acharam-no dentro do carro. Aí me acalmei. Ufa, pensei, hoje é terça-feira e não segunda.
Peguei o carro e fui ver a colocação de insufilm, fininho, só para quebrar o sol. Agendei para amanhã cedo. Passei, então, novamente, na padaria e comprei algumas coisinhas. E, agora, respirando fundo, escrevo essa crônica para desopilar o fígado. Estou com vontade de chamar a Rainha de Copas para cortar a cabeça dos motoristas de caminhão que, indiferentemente, passam nas estradas, sem ligarem para os carros menores.
Ainda bem que, agora, tem a lei seca, mas precisa haver fiscalização nos caminhões que, às vezes, esquecem de limpar as caçambas e, no deslocamento, as pedras que caem são jogadas nos vidros dos carros menores. Em todos os lugares que fui, hoje, depois do incidente, que quase provocou um acidente, citei Carlos Drummond de Andrade: "No meio do caminho tinha uma pedra..." Como é difícil conviver com essas pedras, não é, gente?
E, depois, às 18 horas, ao chegar em casa, me preparei para receber a Lúcia e a Adriane Santana, o Iderval Dias, o José Francisco para ensaiarmos para o sarau do Hospital São João de
Deus e, também, para gravarmos as músicas "Quisera" e "Bem-te-vi", no Recanto. Depois, servi o chá com biscoitos e muito amor. Eles que são maravilhosos, despediram-se e foram embora e, agora, às 23 horas, ainda não me aquietei. Emília está gritando: _ Sossega o facho, poeta! _ Ainda não posso, Emília, vou tomar chá e ver um pouquinho de televisão. A pedra que estava no meio do caminho fortaleceu o meu alicerce, viu?
Divinópolis, 22.07.08