INSISTO NA LEITURA
Internet: sites, blogs, bligs. Jornais, tablóides. Livros, livros. Escândalos. escândalos... E eu aqui afundada numa poltrona, identificando-me com Fernando Pessoa quando diz: “Começo a ler, mas cansa-me o que ainda não li / Quero pensar mas dói-me o que irei concluir / O sonho pesa-me antes de o ter. Sentir / É tudo uma coisa como qualquer coisa que já vi”.
Apesar de... , insisto na leitura. Que seja um ensaio filosófico de Michel de Montaigne: “De como o que beneficia um prejudica outro”. Vejamos o que tem para nos dar como exemplo o mestre Montaigne: Conta ele que, Dêmade de Atenas condenou um homem de sua cidade que comerciava com coisas necessárias aos enterros, acusando-o de tirar disso lucro excessivo somente auferível da morte de muitas pessoas. Tal julgamento, segundo Montaigne, não parece muito eqüitativo, pois não há benefício próprio que não resulte de algum prejuízo alheio e, de acordo com aquele ponto de vista, qualquer ganho fora condenável.
Continua Montaigne: O mercador só faz bons negócios porque a mocidade ama o prazer; o lavrador lucra quando o trigo é caro; o arquiteto quando a casa cai em ruínas; os oficiais de justiça com os processos e disputas dos homens; os próprios ministros da religião tiram honra e proveito de nossa morte e das fraquezas de que nós devemos redimir; nenhum médico, como diz o cômico grego da antiguidade, (Filêmon) se alegra em ver seus próprios amigos com saúde; nem o soldado seu país em paz com os povos vizinhos. Assim tudo. E, o que é pior, quem se analise a si mesmo, verá no fundo do coração que a maioria de seus desejos só nasce e se alimenta em detrimento de outrem. Em se meditando a propósito, percebe-se que a natureza não foge nisso, a seu princípio essencial, pois admitem os físicos que toda coisa nasce, se desenvolve e cresce em conseqüência da alteração e corrupção de outrem.
Encerrando, baseada em Lucrécio, é que pude entender a tal da metamorfose por que tudo passa, segundo Lucrécio, “logo que uma coisa qualquer muda da maneira de ser, disso resulta imediatamente a morte do que ela era antes.”