O Poder do Imaginário
Enquanto um personagem está restrito ao papel, está apenas no nível do texto escrito, ele não corre riscos. É uma figura que convence, que promove grandes reflexões e que faz a imaginação voar. Para quem lê, ele parece extremamente real. Conseguimos criar uma imagem do personagem de acordo com a nossa cosmovisão e com os nossos desejos.
Mas e quando esse personagem é interpretado por um ser humano no teatro, no cinema ou na televisão? Ele é construído através do imaginário do autor, do diretor e do ator. Ele se torna uma grande salada de frutas. Acredito que seja positivo, pois quanto mais idéias sobre a figura fictícia, mais veracidade o personagem vai transmitir.
Acabei de ler uma notícia em um site da internet que dizia que o ator Jackson Antunes, que interpreta “Leonardo” na novela “A Favorita” da rede Globo, foi agredido na rua e foi parar no hospital. O personagem interpretado por ele é um grande vilão, um homem casado que costuma agredir a esposa de diversas maneiras. Lília Cabral faz o papel da esposa que cumpre ordens do marido e não tem coragem de se libertar da situação.
O personagem “Leonardo” foi tão bem construído pela equipe e muito bem interpretado por Jackson Antunes a ponto de gerar reações agressivas. Isso acontece com os textos escritos também, no entanto, quem sofre a agressão, nesse caso, é diretamente o autor. Existem pessoas que não conseguem perceber que os personagens de um texto não representam o autor. Geralmente em romances, contos e novelas as figuras são fictícias. Claro que o autor pode usar características suas e pode inserir histórias próprias na obra, mas ninguém tem o direito de tirar conclusões e sair agredindo o autor por esse ou por aquele comportamento do personagem.
Como a telenovela faz parte do cotidiano das pessoas muito mais do que os livros aqui no Brasil, é mais fácil que as agressões ocorram aos atores. Dificilmente se ouve falar em agressões físicas ao autor, pois o profissional que está em cena é muito mais visado pelo fato estar todos os dias dentro de nossas casas como se fosse alguém real.
Resumindo, são os escritores que colocam a lenha na fogueira e são os atores que se queimam. Sinal de que o trabalho de ambos é de extrema qualidade, mas também é de extremo risco de vida.