Tietagem

Não sou muito chegada a tietagem. Penso que o artista ou o esportista é um profissional como qualquer outro. Tendo a oportunidade de abordá-lo calmamente e cumprimentá-lo pela qualidade de seu trabalho, eu o faria. Mas esse negócio de ficar gritando, histérica, implorar um autógrafo, uma foto, um abraço, não é comigo.

Quando mocinha, na época da geração do vôlei de prata do Brasil, time que contava com o lindo Renan, cheguei a ir com uma amiga - iniciativa dela -, para a porta do hotel onde eles estavam hospedados, numa ocasião em que jogariam aqui em Brasília. Minha tocaia durou pouco. Meia hora, talvez menos, foi o tempo necessário para que eu me desse conta do ridículo da situação e tomasse o rumo de casa. Sem ver nem o roupeiro da seleção.

É bem verdade que, morando em Brasília, os únicos artistas que encontro periodicamente nas ruas são os do circo Três Poderes. Palhaços, trapezistas, ilusionistas, domadores. Esses não inspiram tietagem, mas vontade de jogar-lhes frutas e ovos podres.

Uma vez, porém, entrei num elevador e deparei-me com três engravatados. Cumprimentei a todos com um aceno de cabeça e baixei os olhos. Foi quando me dei conta. Um deles me era familiar. Levantei novamente o olhar e o reconheci. Um de seus acompanhantes sorriu pra mim:

- Sim! É ele. - afirmou.

Era Pelé. O eterno ídolo do Brasil no esporte favorito dos brasileiros. Eu o admirava. Admiro ainda. Ele sorriu para mim. Sorri de volta para ele, depois para o homem que havia falado comigo e que parecia ser um segurança. Respondi:

- Ah! Tá.

E voltei a baixar os olhos. Não foi timidez. Quando mais jovem eu era muito tímida, mas nessa época, não mais. Também não foi por não gostar dele. Só não sabia o que dizer-lhe, no ínfimo intervalo de tempo necessário para vencermos a distância até o térreo. Melhor ficar quieta. Ao final do trajeto, despedi-me normalmente e saí. Acho que o rei ficou um pouco decepcionado pela minha reação. Ou falta dela, sei lá.

Anos mais tarde comecei a fazer algumas viagens freqüentes a São Paulo e Rio de Janeiro. Nos aeroportos dessas cidades pude passar por outros tietáveis, como Bernardinho, Maitê Proença, Marília Pera... Confesso que me deu vontade de aproximar-me quando vi a Fernanda Montenegro, mas nenhuma ocasião dessas teria me preparado para encontrar, juntos Rodrigo Santoro, Murilo Benício e Fábio Assunção, já no saguão de embarque. Lindos, os três, em animada conversação, estavam encostados no vidro, um pouco mais adiante de onde eu e meus companheiros de viagem esperávamos. Na fileira de cadeiras à nossa frente, um grupo de jovens barulhentos. As moças assanharam-se à vista dos atores, os rapazes incentivaram e lá foram elas, com um dos colegas a tiracolo, devidamente equipado com uma máquina fotográfica, pedir-lhes para se deixarem fotografar com elas. Os galãs foram simpáticos, as receberam com beijinhos e abraços e fizeram pose pra foto. O rapaz focou, clicou e... nada. Mexeu num botão aqui, outro ali, tentou de novo e... nada, outra vez. As meninas murcharam, os atores riram. A dona da máquina veio socorrer o fotógrafo improvisado, mexeu, balançou, mas o equipamento se recusava a registrar momento tão eternizável. Quando todos já iam desistindo, apareceu uma outra máquina que, deu um final feliz ao episódio.

Mas, se eu estou acima dessas tietagens a pessoas públicas, celebridades, não tenho a mesma postura diante das pessoas que amo. Dessas, eu sou tiete de carteirinha e fã clube, dou gritinhos de alegria ao vê-las, poso pra fotos, faço chamego, dou beijinhos e abraços.

A vantagem: recebo toda essa tietagem de volta!