Noites Isones
Uma vez Chico disse e Caetano cantou... “O que será que me dá? [...] Que é feito uma aguardente que não sacia. Que é feito estar doente de uma folia...”
E agora, em minha reles alcova, eu me pergunto... “O que será que me dá?”
A noite chega insone, como de costume nos últimos meses, e deixa insone aquele que já não merece mais dormir. A escuridão de cima não faz refugar a luz que se assenta aqui em baixo. Nem mesmo a lua é capaz de calar a tão insistente lâmpada fluorescente. Nem mesmo todas as estrelas brilham mais que as telas e os brilhos do mundo real da alcova.
Mas o dia logo raiará, e com este novo raiar, virá também a esperança de que a próxima noite venha menos insone, e que a outra também, e a noite seguinte, e todas as outras conseguintes, até que um dia as noites insones cessem. E talvez nesse dia eu possa morrer feliz!
Mas enfim... Por que será que um louco escreve sobre suas noites sem dormir? Pelo simples fato de que dormir já não é mais um fato e sim um acontecimento esporádico, uma inverdade inconveniente. Como já foi dito antes, o dia já se aproxima, e com ele vêm as obrigações diárias e diurnas que, como já há tanto tempo, serão cumpridas com ardor e a muito custo... Além de muita sonolência, é claro! Dormir já não é um instinto natural do ser humano. É um direito conquistado por aqueles que se esforçaram a fim de obtê-lo. E meus esforços não foram e não são suficientes para tal congratulação.
“O que será que me dá? [...] Que é feito uma aguardente que não sacia. Que é feito estar doente de uma folia...”
A parte clara do dia já é uma aguardente que não sacia, e, à parte escura dele, sinto que a aguardente que sacia me faz ficar feito um moribundo de folia, e já não deixa que minhas noites se tornem suficientes para meus sonhos... Talvez as noites nunca houvessem sido suficientes para meus sonhos. Talvez eu tenha descoberto isso enquanto me gasto para escrever um texto que provavelmente poucos lerão. Acho que já não adianta mais passar as noites em frente a telas e luzes que ofuscam o brilho da lua e omitem a beleza das estrelas. Talvez o céu já negro deva cobrir essa infindável noite clara. Ou talvez eu só precise ir dormir.