Estava emburrecendo?
Ainda tenho guardada na minha ante-sala, dentro de um porta-revista de palha, que mais parece um sombreiro dobrado ao meio, a Veja edição 1814, ano 36, de 6 de agosto de 2003, que deve ter chegado até tal lugar por alguma “distração” de minha parte, quando estive em algum consultório médico, pois não sou assinante a data coincide com o início do meu pré-operatório, que com todo pistolão tive que esperar um ano para colocarem uma válvula metálica no meu “coração de mel” como alguns amigos e amigas bondosamente dizem, Certamente são membros do Clube do Pinóquio no Brasil presidido por algum herdeiro de Monteiro Lobato! Mas quando tropecei no tal “chapéu enrolado”, quem caiu nos meus pés? A tal Veja. E quero aqui dizer que tais amigos me parecem culpados da minha diabete; uma vez que sempre que os visitei me enchiam cocadinhas, docinhos de leite, brigadeirinhos, e ai vão, ou melhor, ia!
A importância do tal exemplar da Veja, se dá porque nele há, naquelas páginas amarelinhas, um artigo do Stephen Kanitz, professor que está entre os melhores palestrantes do país, que afirma que “Estamos Emburrecendo”, e entre as justificativas escreve: “Antigamente, você precisava entender de mecânica para dirigir um carro. Hoje, os computadores são feitos à prova de idiota, graças a Deus! É justamente por isso que sobrevivemos. Equipamentos incorporam conhecimento, e muitas vezes tomam decisões por nós. Por essa Darwin não esperava, pela sobrevivência dos menos inteligentes”, e de uma hora para outra, se bem que tenho desculpas, mas fico sem poder alimentar a fúria dos sites para os quais escrevo. Fiquei igual Jove por Juma, decidido por me ausentar da civilização.
Não vou aqui contar tudo que o professor Stephen escreveu naquela Veja, quem quiser que peça a Editora Abril um exemplar atrasado, mas há um trecho para lá de matemático e interessante: “Se você ler três livros por mês, dos 20 aos 50 anos, serão 1.000 livros lidos numa vida, que nem chegam perto dos 40.000 publicados todo ano só no Brasil. Comparado com os 40 milhões de livros catalogados pelo mundo afora, mais 4 bilhões de “home-pages” na internet, teses de doutorado, artigos e documentos espalhados por aí, provavelmente seu conhecimento não passa de 0,0000000000025% do total existente.” E me parece certo o professor, temos que nos “desemburrar”, e aceitar que a idade moderna não tem nenhum gênio, ou que as genialidades são setorizadas!
O certo é que nestes últimos dias “desinspirado”, pela morte de um irmão, que dias antes me fiz fotografar ao seu lado, eu procurava assunto para escrever, e não encontrava. Até tropeçar na Veja que não havia visto, estes dias foram chatos para mim. Mas mamãe foi sábia, e com meu papai teve cinco filhos, o caçula sou eu e já vou para 61 anos, e o mais “vovô” de todos com 72 anos, está firme forte do que eu, com uma vitalidade de rapazola ele voa de para-pentes. Aquele negócio que parece um pára-quedas, e que faz os “malucos” se atirarem de altos pedregulhos ou serem içados a reboque de alguma lancha a motor. Mas o que eu quero festejar na volta minha inspiração, é que Norberto, meu irmão que se foi, se não pegou uma via engarrafada por tantos óbitos nas ruas de Salvador, já chegou ao céu e por lá me espera.
Mas o grande festejo que tenho é volta de comunicação com meu irmão Bertholdo, que desde o sepultamento de minha mãe, isto há duas décadas, e os preços astronômicos das tarifas de telefone fixo, e a preguiça de ir ao Correio, onde aquele povo anda emburrado, praticamente um não sabia do outro. Graças a esta máquina chamada computador, cuja alma Internet é pombo correio virtual, e que como diz o professor Stephen “nos emburrece”, tenho um irmão em Santa Catarina e com ele agora troco mensagens quase diárias, eu daqui Bahia!