Você já estava indo. Saía aos poucos de mim. Doía e você soprava. Despedimos-nos algumas vezes. Mas você voltava. O processo foi doloroso como quem morre aos poucos.
Nem sempre foi triste. Eu já sabia que você iria. Eu até me despedi antes, certa de que não lhe veria mais. Então, de repentes, você surgia.
Foram boas despedidas. Nem preciso disfarçar. Para falar a verdade: foram ótimas despedidas. Na última o dia se fez lindo e voltei para casa cantarolando, apesar de lá dentro um anjinho me avisar que talvez fosse a última vez que eu te via.
Continuamos nos despedindo por telefone. Por e-mails. Pelo msn. As dificuldades sobre as quais você passava me preocupavam, mas eu sempre disse que ao fim daria tudo certo.
Você me ouviu chorar. Eu lhe ouvi reclamar. Você dizia e desdizia. Eu dançava conforme a sua música. E você me mimava do seu jeito. Enviei mensagens de textos horríveis para você. Perdoamos-nos inúmeras vezes.
Escrevi coisas bobas, que achava lindas, para você. Você nunca escreveu bobagens para mim, seu estilo é outro, mas sua boca murmurou bobagens deliciosas de ouvir.
A noite, antes triste, virou festa e foi aí que peguei de vez na sua mão e me deixei ir. Visitei um mundo novo e lhe recebi no meu.
Todo conto de fada tem fim. E o nosso não vinha com final feliz para nós dois.Você foi e não me disse que era de vez. Alguém o viu longe daqui e me falou.
A página virou com o vento e o escuro caiu sobre mim. Perdida nem vi a lua que eu brindara na véspera.
Fiz de cada trago no cigarro um sinal para você. Então, você me apareceu. Lindo como sempre. Acenando de longe. E doce como nunca.
Não quero pensar nos dias que virão sem mais uma de nossas despedidas. Não sei nada sobre o futuro, nem quero saber.
O que eu quero, menino, é ser feliz e serei se você também for, perto ou longe, de mim.
Deixo Vinicius para você, pois dessa vez merecemos um poema de verdade. Um dos mais belos que o poetinha escreveu..
É como eu quero que você lembre de mim. É como eu vejo você. É como sinto essa despedida.
Acho que ainda lhe verei mais tarde, para mais uma despedida, se Deus quiser.
Soneto da Separação.
"De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente."
Vinicius de Morais