Retrato

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A parede, hoje de cor indefinida, abriga as telas que também desbotam. Paisagens e flores, que um dia foram criadas em um momento de inspiração, perdem suas cores com a ação do tempo.

Tempo... Este agente silencioso e sutil, mas que está presente em tudo, em qualquer lugar, em qualquer matéria.

Da juventude alegre e dos momentos tristes alimenta-se a memória, ainda resguardada pela lucidez da saudade, que num olhar mais atento se confunde com os quadros e a parede.

Tanto sentimento vivido, tantas decisões, tantas mudanças de rumo que fizeram uma história, que situaram um ser no espaço, sucumbem diante do Pintor.
 
O caminho está mais curto, como as perspectivas também. O hoje é corrido; corre-se para poder chegar a tempo; corre-se para não chegar; corre-se quando seria hora de descansar, corre-se para poder descansar. Corremos em câmera lenta - estáticos, se diante do futuro, absurdamente fugidios, se diante do passado.

Envelhecemos todos, cada um em seu ritmo, na aparência, que por mais que seja escondida, aparece nos olhos, mesmo que a alma insista em ser jovem. A saúde não acompanha nossas vontades (até destas podemos não ser mais donos).Tudo aquilo que se deixou de fazer e o que não foi dito, ou o que foi dito e feito para criar raízes na alma, são registrados no corpo, como a marca do autor, e que tem um tempo definido.
 
Nossos pincéis se gastarão, a tinta secará e o cenário do que somos não resistirá, senão naquilo que se perpetua na memória e na vida de quem para pra apreciar um pequeno retrato.

Leila Marinho Lage

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Leila Marinho Lage
Enviado por Leila Marinho Lage em 21/07/2008
Reeditado em 29/07/2012
Código do texto: T1090510
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