A ESTRELA
Na minha imaginação, a família é como uma constelação de estrelas brilhantes de muitas pontas.
Cada estrela tem sua cor forte e determinada mais concentrada no centro, diluindo-se em direção às extremidades.
O núcleo é o instante em que cada um emerge para a vida e nas pontas aquele momento em que já se dirige ao fim.
Hoje, 30 de Junho de 2000, faleceu muito idosa a senhora minha mãe, Dona ELSA, e me levou a imaginar essa estrela, porque uma estrela ela foi.
Essa Senhora teve uma vida muito atribulada, contudo, em tudo o que fez e atuou ela foi a estrela.
Sobressaía sempre com suas atitudes destemidas, muitas vezes deslocadas de sua época e idéias brilhantes, pioneiras. Suas ações se expandiam e atingiam longas distâncias, fosse pela caridade que distribuía, fosse pelos ensinamentos que partilhava sempre.
Tenho sua lembrança, como uma das estrelas da minha constelação familiar.
Ela começou, sim, no centro, no núcleo, forte e marcante. E como já foi dito que começamos a morrer no instante em que nascemos, ela viveu sua direção, encaminhando-se para sua própria ponta, num “degradé” lento e contínuo.
Ficou muito tempo parada lá, no finzinho, até esse momento em que deixou de pertencer à massa da cor e se tornou história. Ela foi se afinando, afinando, até diluir-se no Nada e apagou-se da vida corpórea e passou a brilhar no mundo infinito.
As inúmeras estrelas dessa constelação não são todas do mesmo tamanho. Algumas afinam abruptamente, ainda com as cores fortes, e se incorporam ao Nada.
Estamos acostumados a esperar que a ponta se afine lentamente, por essa razão, quando se apagam de repente, ficamos assim, estupefatos, assustados, pegos de surpresa. Assim acontece com aqueles que deixam esta vida ainda no frescor da idade!
Por outro lado, quando se apaga lentamente, vamos praticamente nos acostumando à idéia do apagar, como foi o caso da minha querida Velha Senhora que se apagou bem velhinha e muito adoentada...
Somos uma estrela no céu infinito que mistura sua luz e sua cor com outras estrelas, sempre adicionando brilhos, sempre adicionando cores.
É muito triste sabermos de um apagar, mesmo que não pertençamos àquela via Láctea.
Hoje se apagou uma Estrela da minha constelação.
Resta-nos o consolo de saber que à volta dela, atrás, em profundidade, à frente, por todos os lados, existe o profundo céu azul, o infinito Universo onde a Energia Divina mantém em equilíbrio todas as estrelas do Seu Sistema abençoado.
Essa estrela que hoje se apagou e mergulhou no Nada, não se perdeu: ela viverá na história de sua constelação e, depois de surgirem muitos e muitos pontos de luz e cor e novas estrelas, ela será lenda, mas nunca esquecimento.
As lendas são histórias que jamais esquecemos, pois passam de geração em geração.
Se algum dia ela fará parte de outra constelação e se tornará outra estrela? Deus o sabe.
No meu céu, apareceu mais uma estrela. Ela está lá brilhando, brilhando com sua luz e sua memória.
Às vezes ao olhá-la, a mim parece que brilha um pouco mais forte! Pode ser que receba minhas emanações de saudade e responda com um pouco mais de brilho a me dizer:
- Também não me esqueci de você, minha filha!
Rachel dos Santos Dias