M E U B U S T O N A P R A Ç A

A noite está indo embora permaneça, no momento que é eterno. Não quero acordar. Estou sonhando? Não adianta perder noites de sono, não vou ganhar nada com isto. Não sou kamikaze. Não adianta perder noites e sonhos. A noite já se foi? Sonho ou pesadelo?

A esperança é renascimento. A esperança é a última que morre, e nasce, e morre, e nasce. A esperança dança, num espetáculo, morre, nasce, some, desaparece, aparece de novo, reaparece, no novo dia que nasce, com o sol. Sistema - SOLAR.

A terra gira, não sou quadrado. Quiçá, no futuro, meu busto na praça vazia possa dizer o que eu não disse. Não disse porque nada do que eu não falei faria diferença, e ser igual é um tormento. Não disse nada porque tudo que eu poderia falar já foi dito e o dito pelo não dito não faz meu estilo e o estilo é deprimente se é apenas uma cópia e nada faz sentido se for continuado e sempre do mesmo jeito, por isso importa a diferença entre eu e eu mesmo, várias faces para um mesmo destino, muitas estradas sinuosas. Sem esperança. Sistemático.

Também não disse nada, eu já estava cansado de repetir, e repetir, e repetir, e continuar a repetir, como um disco furado, lembra? Como um vídeo que passa sempre o mesmo filme, e os mesmos atores e as mesmas estórias, no mesmo local, no mesmo horário, as mesmas cenas se repetindo eternamente na minha mente, somente pode ser um pesadelo, afinal de contas eu não acordo, e o tempo paralisado. Sem esperança. Este sistema solar, eterno, meu busto na praça vazia.

A palavra não está conectada, o som não está audível, a visão, embaçada, a compreensão, desafinada, e o concerto, desordenado, e o ordenado, também, e a confusão é tamanha que nem eu mesmo e nem quiçá, meu busto na praça vazia, possa dizer o que eu não disse e se eu quero falar é porque é necessário, é a urgência, superando a impaciência e a falta de preparo e todas as qualidades que um texto precisa ter antes de ir para o forno, quer dizer, antes de ser oficializado patrimônio da humanidade, para ser imortalizado, ter a notoriedade de um mestre, a sapiência de Confúcio, a paciência de Jó, e de todas as pessoas que suportam esta situação que surgiu do nada que eu tentasse deu certo, sem esperança este sistema, solar, eterno, meu busto na praça vazia.

florencio mendonça
Enviado por florencio mendonça em 19/07/2008
Reeditado em 05/05/2015
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