QUE OS SINOS DOBREM POR EMÍLIA

Meu caro leitor, minha cara leitora, “ leia isto e queira-me bem, perdoe-me o que lhe parecer mau, e não maltrate muito a arruda, se lhe não cheira a rosas.”

Quem leu o conto ‘O Enfermeiro’ de Machado de Assis, sabe que, quem assim se expressou foi Procópio, personagem da história.

A título de curiosidade passo à frente, pois não deixa de ser interessante saber, principalmente, para nós mulheres, que no ano de 1601, Shakespeare, deixando de lado as comédias ao escrever o sóbrio drama Otelo – quando começa a aprofundar a psicologia de seus personagens – criou para Emilia, mulher de Iago e companheira de Desdêmona, entre outras falas, uma como esta: (...) a culpa é dos maridos. Se eles prodigalizam a outras o amor que é nosso, ou nos fecham em casa por ciúmes ridículos, ou nos batem, ou gastam de má forma o nosso dinheiro, não podemos enfurecer-nos também? De certo somos benévolas de condição, mas também capazes de cólera. E que os maridos saibam, que as mulheres têm sentidos tal como eles, e vêem, e tocam, e saboreiam, e sabem distinguir o que é amargo. Quando eles abandonam as suas mulheres por outras, que procuram senão o prazer? Que os arrasta. Senão a paixão? Que os domina, senão a fraqueza? E nós não temos também, apetites, paixões e fraquezas? Conforme nos tratam, assim seremos nós.”

Taí quem era mulher de verdade: a Emília de Shakespeare e não a Amélia de Ataulfo e Mário Lago. Que os sinos dobrem por ela.

Deixando de lado as emílias e as amélias e, caindo na real, subo na ponte para observar o bate-estaca do “shangri-lá” prometido, só que para tanto me falta a visão otimista e a percepção dos raios da esperança e me sobra o descrédito de Harry (O Lobo da Estepe – Hermann Hesse)

Ora direis: a cotovia nem cantou, é cedo ainda. Afinal, para a ‘Fazenda Modelo’, Juvenal, o Bom Boi, proclamou-se rei e senhor, taí à nos governar. Paciência, pois. E assim sendo, que a boiada seja selecionada; plantado o capim elefante; importado o farelo; cheios os bebedouros; substituído o chocalho pelo cartão magnético. E que o preço de cada um seja o valor de uma bolsa-família

Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 18/07/2008
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