Meu avô
Eu estava lembrando esses dias do meu avô materno, era sinceramente uma figura interessante, começando pelo o fato, de praxe, dos avós, em geral, ser-nos apresentados velhinhos e nós tão novinhos sem qualquer maturidade para entendermos que significado tem aquelas presepadas que eles nos fazem, e quando grandes descobrimos (enfim!) que na verdade não era algum ritual, não era algo instrutivo, nem sequer um mero cumprimento deixado por ancestrais, ou coisa do tipo, nãão, nãão, era babação mesmo, ou como eu, sinceramente, penso e digo: um modo deles soltarem a franga e serem respeitados pela família! Que, por sinal, vêem tudo isso de forma muito normal, anormal é a criança se não sorrir da loucura toda, que ela provavelmente não deve entender, aí ficam preocupadíssimos, mas passa.
Então se a primeira impressão é a que fica, é iminente que sempre iríamos vê-los como aqueles seres idosos demasiado intrigantes, com um insistente distúrbio intestinal constrangedor para eles e aflitivo pra gente, portando uma chapinha que dança na boca e depois vai parar num copo d’água dentro da geladeira e, claro, se embelezando com o mais comum acessório da categoria, um óculos de grau pra perto e pra longe (talvez até exista uns ultra-modernos de visão noturna, quem sabe?). Então, recapitulando bem, os avós são desde o principio de nossa personalidade e pensamentos aqueles que mais nos desafiam a entendê-los, porque eu sei que o meu avô já foi homem forte, já foi jovem robusto, garoto educado e até menino de bucho mas eu não conseguia, até a um tempo, montar essa imagem! É estranho mas você sempre pensa até uma certa idade que seus avós foram velhos a vida inteira( que bobagem, mas é verdade). É difícil de acreditar, e até engraçado, meu avô magrinho na sala de jantar ser um aventureiro de causas perdidas um andarilho em meio as lições da vida!
E ele mesmo dizia que achava, que todas as loucuras que ele viveu guardava mais nos cabelos brancos que na memória, e eu percebia pois ele me contava tantas histórias que muitas vezes fugia do seu entendimento e ele fazia um remendo no pensamento para terminar-me os relatos, era um padecimento só, mas o empenho dele me prendia a atenção, já me estava de bom grado!
Ah! Meu avô era uma figura, gostava de umas músicas estilo Waldick Soriano, cantava pra minha vó, desafinado, e pensava que era uma belezura a serenata!( era nada, rs) Gostava duma “branquinha”, eita era um vício terrível, mas todo mundo tem um, ora, e ele vez ou outra tentava pular fora, aí com um tempo voltava pianinho, e então se esbaldava, o vício não acabava. Amava ficar de cócoras no quintal, contar umas histórias sem nexo pra gente e de certo gostava de se iludir em pensar que acreditávamos (só pode) ... Adorava nos poupar de saber imoralidade, tudo não podia ser dito, nada podia ser falado, era uma graça! E como gostava de andar, passeava em tudo que era lugar, vivia vindo dalí, indo pra lá, rondando aculá...
E que pena vô que o senhor agora saiu e não vai voltar mais. Mas eu vou me poupar dos “ais” e um dia até quem sabe eu não faço um canto? Estilo Waldick Soriano! Pra eu cantar e me contentar um pouco aqui.