QUANDO AS MÁSCARAS CAEM

Durante a legislatura municipal que findou em 2004, conforme nos relatou uma fonte jornalística, um jovem universitário montes-clarense, de espírito irrequieto, curioso e brincalhão, por acaso, viu um vereador local – cujo estado civil era casado e conhecido dos seus eleitores – entrando em um motel da cidade; estava acompanhado de um espécime de beleza rara do sexo oposto, que sabidamente não era seu cônjuge. Seria uma situação considerada normal se o fato não tivesse ocorrido durante o horário de expediente administrativo da Casa Legislativa a que pertencia o edil.

O jovem resolveu, então, fazer uma travessura: telefonou para o gabinete do vereador para ver qual a informação que seus assessores dariam sobre o seu paradeiro. A resposta soou ridícula e meio cínica para o nosso investigador, que se sentiu ludibriado: o assessor (ou assessora) informou que o vereador estava visitando uma comunidade rural e que só retornaria mais tarde.

A intenção do estudante, ao ligar, era fazer troça com quem o atendesse e relatar que vira o parlamentar entrar no motel naquele momento, porém, repentinamente decidiu não fazer escárnio pelo telefone sobre o que vira. Embora permanecendo com a sensação de que estava sendo enganado ou, no mínimo, desrespeitado, agradeceu e desligou.

O fato, por mais que o jovem tentava esquecer, não lhe saía da cabeça. Era uma presença inquietante. Até que num dado momento ele teve uma idéia muito própria de sua personalidade rebelde: pensou em investigar se os outros vereadores seriam encontrados ou não em seus gabinetes no horário de expediente administrativo e, em seguida, procurar checar se as informações sobre seus paradeiros, passadas pelos respectivos assessores, coincidiam com a realidade. Convidou um colega para ajudá-lo e os dois, numa motocicleta, partiram para a ação.

O resultado da pesquisa foi desolador. A grande maioria dos gabinetes informou que os seus vereadores estavam em visitas a comunidades rurais ou em reunião com esta ou aquela entidade. Em mais de 80% dos casos ficou provado que os edis não estiveram em tais destinos nas datas e horários informados por seus assessores. Houve também casos em que os assessores demonstraram desconhecer o destino de seus vereadores e casos mais graves em que não só se recusaram informar o destino como ainda foram grosseiros diante das indagações do pesquisador.

É óbvio que as incongruências aqui apontadas não podem ser atribuídas indistintamente a todos os vereadores daquela ou de outra legislatura. Afinal, toda generalização é injusta. Mas a verdade é que o resultado da pesquisa citada só vem confirmar a existência de um sistema político viciado, que persiste e só não o vê quem não quer, no qual grande parte dos políticos eleitos não tem compromisso com o povo que os elegeram como representantes.

Por outro lado, os eleitores não cultivam o hábito de fiscalizar as ações daqueles a quem outorgaram, através do voto, o poder de tomar decisões políticas em nome da sociedade. Isto dá, aos políticos desonestos, plena liberdade para mascarar suas verdadeiras intenções através de mirabolantes promessas de campanhas; consagrada a votação e eleição de seus nomes no pleito, deixam as máscaras caírem, para recolocá-las na próxima campanha eleitoral.