O ENCONTRO ENTRE ZECA BALEIRO, RITA RIBEIRO E EU COM CAETANO VELOSO
Às cinqüenta horas de ônibus que nos levariam de São Luís ao Rio de Janeiro, voavam de tão alegre e divertida que estava a viagem, afinal, éramos todos vencedores do Festival de Música Popular do Maranhão, ganhadores do Troféu Governador Cafeteira e estávamos indo gravar um disco com as músicas do festival, o nosso maior prêmio.
Celso Reis, o “rei da piada”, reservara um repertório variado e nos mantinha com dor na mandíbula de tanto rir entre um cochilo e outro. Até o introspectivo Norberto Abadon, vencedor do festival com sua Rosa Negra, ria-se dele. Zeca Baleiro, na época, apenas um jovem músico que despontava na capital maranhense e Ritinha, hoje Rita Ribeiro, cantora de voz afinadíssima e bela, entre outros, faziam parte da “Tribo”, como ficou posteriormente batizado o vinil com o registro do evento.
Eu, morando em São Luís, tinha como parceiro Roberto Ricci, o melhor músico autodidata da região, um músico cego muito competente e que me convenceu a inscrever minha “Ser Vida”.
Arrebatamos o Melhor Arranjo confirmando assim o talento de Roberto e presenteando-me com a gravação.
No Rio de Janeiro, hospedados na Casa Paschoal Carlos Magno na Lapa, uma espécie de albergue para artistas visitantes, a farra continuava. De dia, Stúdios Máster em Laranjeiras, trabalho duro e sério, já a noite, hum! Era da esbórnia, Circo Voador, Amarelinho, e por aí.
No Canecão, estreara Caetano Veloso com “O Estrangeiro”, que seria a volta do baiano às origens e ao tropicalismo, e nós, fãs e tietes incondicionais dele, não perderíamos, jamais a oportunidade de vê-lo.Passeio combinado, Rita, Zeca e eu fomos assisti-lo, com a grana curta, bebida só com muito gelo para durar bastante tempo, mas ali sentados no Canecão, naquele momento, os três músicos mais felizes do Brasil.
“O Estrangeiro” foi, sem dúvida, um dos melhores trabalhos de Caetano e o seu primeiro álbum a fazer carreira no exterior, emplacou “Meia Lua Inteira”, “Branquinha”, “Jenipapo Absoluto”, e entre outras maravilhas nos apresentava ainda um jovem-maluco-percursionista-baiano chamado Carlinhos Brown, e a gente ali, fazendo a nossa história vivenciando a de Caetano.
Já se passaram dezoito anos do dia nove de junho de mil novecentos e oitenta e nove e talvez, Zeca Baleiro e Rita Ribeiro, atuais ícones da nossa MPB, não recordem mais o fato. Mas para mim, que hoje sirvo à memória, fica a lembrança e o orgulho do dia em que estive lado a lado com Zeca Baleiro, Rita Ribeiro e Caetano Veloso, testemunhando um dos melhores momentos da nossa música popular. “O Estrangeiro”.
A volta para São Luís foi tão alegre quanto e lá, destinos traçados, cada um seguiu seu caminho...