O INÍCIO É O FIM
No início, eu acreditei em tudo. Desacreditei de tudo, logo depois. Eu era uma lesma, algo gosmento, repugnante, e logo depois, a metamorfose, eu já voava, livre, como uma borboleta. As épocas iam passando, demasiadamente rápidas, indo, embora, embora eu permanecesse, no mesmo ponto. Bastava uma vírgula qualquer e o assunto já se desviava para outros rumos, dizia, ia beber em outras fontes.
O que eu achava impossível, estava acontecendo, como a aranha tecendo sua teia, algo foi se formando, do nada, e surgiu algo improvável: eu acreditei. Eu acreditei no dia, eu acreditei na noite, eu acreditei nas estrelas, eu acreditei na física, na metafísica, eu acreditei no nada, eu acreditei, acreditei, até desacreditar. Fui possuído por um sentimento que engana, enquanto o tempo passa.
Pensei, para ter chegado até aqui, um longo passado já se passou, não entendi o sentido da frase, mas gostei, no início, depois logo desgostei. Eu sabia, neste momento da minha vida, que era ilusão, o passado, o presente, e o futuro. Todos, somados, não me levariam a lugar algum. Eu sabia que precisava inventar, inverter, reverter, usar todos os verbos possíveis, até os impossíveis, tudo para não me perder no caminho, sem saber se eu estava indo ou voltando. Tudo era um emaranhado na minha cabeça, que não pensava, apenas digitava, alucinada, para não perder uma letra sequer, que formasse uma palavrinha qualquer, todas serviriam, eu ainda conseguiria fazer uma frase de efeito, com estilo, uma frase "chocante", algo que me tornasse célebre, ou celebrado, festejado, tudo que eu queria era que vocês lessem meus rabiscos, estas coisas que escrevo.