ÉPOCA DE OURO
Relembrar é viver e viver é lembrar; porque o hoje é o que vivemos; o ontem é que já sentimos e o futuro é o que esperamos sentir. Por isso, quando estamos naqueles momentos de reflexão, ou quando temos saudades de algum fato do passado, seja sobre a nossa infância, sobre a nossa faculdade ou das festinhas em família, logo vem a nostalgia que nos conduz ao mundo mágico do passado, rodando um filme em nossa mente de muitas peripércias que nos ajundam a fomentar nossa saudade.
Como não lembrar de nossas peraltices que vinham aos montes, pois o nosso tempo não era tão absorvido pelos entretenimentos eletrônicos que vivenciamos neste momento. Hoje, os jovens têm pouco tempo para alvorar-se pelas ebulições e pelas necessidades de dispor da energia do corpo. Não sei como podem ficar sentadas – horas a fio – frente a um computador, exercitando apenas o intelecto e deixando o corpo sob uma deplorável estagnação. Vejo bem de perto o comportamento do meu filho que gosta de jogar bola; porém esse hobby é secudário, pois sua preferência primoridial é o jogo virtual. Não obstante, não existe cadeira e nem teclado que resistam seus impulsos naturais, pois os gingados o deixam inquieto e, assim; dança e saltita em frente ao computador.
Na nossa época (talvez 40 anos atrás), essa carência de lazer nos levava às traquinices diversas. Ocorre que muitas vezes elas até se estendiam à classe de aula. Não raras vezes – em época de chuvas – eu armava o guarda-chuvas em cima da mesa da professora e com ele pulava sob as mãos, numa tentativa de emitar um para-quedista, pois morava numa cidade povoada por militares que seguidas vezes vinham dos céus em seus pára-quedas.
Certa feita, depois de decidirmos que a classe iria comemorar os aniversariantes do mês, fomos até a direção do nosso Colégio Estadual Felipe de Brum, na minha saudosa Amambai-MS, para solicitarmos a abertura de uma das classes para que pudéssemos preparar a festança. Motivado pelas algazarras que os alunos desenvolviam; o Diretor detestou a idéia e disse que em seu colégio aluno nenhum faria festa. Essa resposta, considerada mal-criada pelos líderes, desencadeou um sentimento de revolta. Assim, decidimos fazer a festa de qualquer forma lá no Colégio, independente da autorização. Destarte, arrumamos duas escadas bem compridas, instalando-as nos dois lados do muro e fizemos nossa festa. Deu um trabalhão, pois tivemos de transportar por esse caminho insólito os caldeirões de ponches e outros apetrechos necessários. A proeza redundou numa suspensão coletiva.
Eu adorava passar minhas férias num lugarejo chamado Panambi, que faz parte da grande Dourados-MS, onde moravam alguns tios. Minha atração não era tanta pela vontade de estar com os meus parentes, mas sim de aproveitar as inúmeras bicicletas que na região eram tão abundantes e necessárias para locomoção. Gostava de pedalar uma bicicleta em alta volocidade, sem me preocupar com trânsito que era de uma calmaria absoluta (meia dúzia de veículos na região). Sentia que minha destreza era imensa, quando dos pneus da “magrela” surgia aquele poeirão originado da terra vermelha e ressecada em plena época de inverno (mê de julho). Tento falar pra meu filho que andar de bicicleta é uma sensação prodigiosa, mas ele não quer nem saber – sua bicicleta novinha está enferrujando pela falta de uso.
Adorava também passar minhas férias de final de ano em uma fazenda em Rio Brilhante-MS, na casa de meus avós paternos. Essa era minha recompensa quando tirava boas notas. Aliás, na educação atual – tão massacrada pela diversificação do ensino – é conveniente que os pais usem desse insentivo, premiando o filho bem sucedido na escola a passar férias em localidades de sua preferência. Mas, o que realmente me motivava a passar férias com meus avós era o contato direto com a natureza; os pássaros; os lagos; as pescarias; o jogo de futebol em regiões precárias (gramados improvisados); as proezar com os estilingues (arma de atirar pedriscos); banhos em cachoeiras; colheita de frutas comuns e silvestres (como pitangas, laranjas, mangas); viagens de trator para outras fazendas etc. etc.
Eu me preocupo com nosso mundo atual, pois a falta esses elementos necessários ao desenvolvimento da parte motora da criança, onde possa enxergar um mundo livre e diverso, para que possa desenvolver o seu livre arbítrio dentro de paradigmas que sejam o gosto pela natureza e pelos encantos que ela proporciona - com toda a sua plenitude - e que antigamente estava mais perto e a nosso dispor.
O mundo moderno oferece as opções eletrônicas, mas nem por isso a criança deixa de desejar o encontro com a natureza. Isso é perfeitamente palpável e visível quando convidamos nossos filhos para visitar um sítio ou um zona rural que oferece as opções de contato com a natureza. Meus filhos, por exemplo, adoram visitar meu pai que depois de aposentado foi morar à beira de um rio pesqueiro. Enquanto são jovens, esse lazer é muito atrativo. Evidente que depois de certa idade, quando ingressam na adolescência, desejam outro tipo de lazer, como baladas, alta freqüência social etc. Mas certamente, quando eles se tornarem adultos não vão se lembrar das tantas noites que passaram sem dormir, mas sim dos momentos em que tiveram contato com a natureza, pois esses instantes ficam gravados para sempre. Esses momentos marcam mais que qualquer outro em suas vidas.
Assim, termino minha explanação fazendo referência às atividades mais simples e mais dinâmicas no desenvolvimento da juventude como um todo; sem abrir mão ou desprezar o conhecimento globalizado da virtualização, enfatizando que é necessário que nossos jovens sejam mais adeptos às atividades que provenham do dinamismo nas suas inter-relações, principalmente de contatos diretos com a natureza, para que num futuro próximo não sofram do mal do século – a letargia das atividades físicas.