SUPER-HERÓI

É noite, e mais uma vez estou sobre a cidade, aqui de cima, zelando pelo sono dos justos e botando pra dormir os “vilões”. Toda noite é assim, visto meu uniforme, coloco a máscara e saio. Vou pras ruas, observar...

Engraçado como essa carreira amadurece a gente. Sempre pensei nas pessoas como os bons e os maus, bem definidos como se fossem dois partidos opostos e atritantes. Enfrentei muita coisa, balas, objetos perfurocortantes, mas como super-herói tiro isso de letra. Descobri em minhas investidas que o conflito primeiro é interno, nasce na mente, no âmago, como me disse certa vez um xamã “o amor e o ódio são dois lobos lutando dentro da gente”, e quem ganha? (perguntei) “Aquele que você alimentar mais”... Esses pensamentos me invadiram quando um seqüestrador matou uma refém, e eu não estava lá, o turbilhão de sensações afloradas em mim, olhos e entranhas queimando, vontade de bater, provocar dor, matar... Não me reconheci, era outro, capaz de subjugar pela força e pelo poder a mim concedidos. Eu que me propunha a servir e proteger. Pensei estar à cima disso do que chamava “mesquinhez humana”, me enganei. Não que ache que isso é normal, dar vazão a essas vontades, decidir quem vai e quem fica quem merece viver ou morrer. Apenas acordei pra realidade, do contrário emblemático que nos pertence e aquela vozinha lá dentro que nos diz pra fazer coisas e tomar decisões, sem desculpas, sem mentiras, sem máscaras... É tudo uma questão de escolha!