Como Eu Gosto

Já me deparei com alguns textos que se propunham a fazer a distinção entre crônica e conto. Alguns defendem que a crônica apresenta uma redação mais leve, ágil, quase noticiosa de um fato ou a opinião analítica do autor sobre determinado assunto. O conto teria uma apresentação menos linear e objetiva, mais inventiva, sempre voltado à narração de fatos, inventados ou não. Não é minha escola de formação, mas lembro que, há muitos anos, eu aprendi simplesmente que a crônica trata realidade e o conto, ficção. É assim que classifico meus textos. Tem fatos reais ou trata-se de minha opinião sincera sobre algum tema, é crônica. Senão, é conto.

Claro que minha vida não é tão interessante que me permita contar fatos novos com a mesma ânsia que tenho de escrever, mesmo usando histórias compartilhadas por amigos, que já começam a ficar temerosos em contá-las perto de mim e depois vê-las divulgadas ao mundo. É bem verdade que o mundo em questão nunca passou de trezentos e poucos leitores, total de acessos ao meu texto de maior audiência, segundo índices do Recanto das Letras. Tranqüilizo esses amigos argumentando que mudarei seus nomes e partes de suas hitórias, para dificultar a identificação. Às vezes também mudo sexo das personagens, noutras misturo histórias, embaralho tudo, para ocultar detalhes que permitam associar a eles situações embaraçosas que poderiam ridicularizá-los ou mesmo prejudicar relacionamentos, sabe como é.

Mas esse embaçamento que faço visa, principalmente, tornar as histórias mais divertidas, interessantes. Às vezes, escrevo em primeira pessoa, mesmo para contar histórias das quais não participei, colocando-me no lugar de uma das personagens, homem ou mulher. E, quando falo de mim, posso ser apenas “Ela”, ou ganhar outro nome. Depende do que quero contar ou ocultar. Finalmente, para dar mais sabor ao texto, invento uns detalhezinhos, aumento um pouco a história.

Ainda assim, por serem baseados em histórias verídicas, prefiro manter a classificação desses meus textos como crônicas, mesmo que haja tanta ficção que eles poderiam passar perfeitamente por contos.

Diz o ditado: quem conta um conto aumenta um ponto. Mesmo que o conto em questão seja uma crônica.

Não importa muito. É como gosto de escrever, como numa dança dos sete véus, ocultando ou expondo e, sempre tentando, nem sempre conseguindo, seduzir. Não pelos volteios lânguidos da dançarina, que às vezes se desnuda, mas pelo sorriso bobo ou a sincera empatia que roubo de seu silêncio com cenas do cotidiano, bordadas à fantasia pelas linhas grossas e coloridas do meu humor ou dor.