A volta dos mequetrefes

Acabo de descobrir que, sob qualquer hipótese, não podemos nos descuidar da existência desses terríveis intrometidos em conversas alheias que não se escafederam da face da terra, como cheguei a admitir na extinção da espécie, porque havia tempo que não me sentia assediado por entes da categoria adulta, que são os piores. (Os infantes, piás, curumins, guris, “boyzinhos” e adolescentes também são inconvenientes mas, ainda em fase de aprendizado, não incomodam tanto quanto seus parentes mais crescidos, posto que mais fáceis de serem descartados de nossas conversas)

Assim, a título de alerta aos meus amigos, decidi registrar algumas orientações básicas capazes de afastá-los dessas figuras inconvenientes que nos tiram do sério nas situações mais adversas, particularmente quando estamos em um animado – ou triste – papo com pessoas mais chegadas.

Eu acredito que todos nós já nos deparamos, pelo menos uma vez na vida, com um mequetrefe, assim como acredito, igualmente, que muitas pessoas que passaram por isso não souberam identificá-los. A identificação é importante na medida em que podemos nos livrar deles antes de seus ataques de chatice. Por isso, separei algumas situações de mais fácil identificação para facilitar a compreensão.

Você e alguns amigos estão em uma mesa de bar, tomando um chopinho, uma cerveja ou um uísque, numa conversa animada sobre algum assunto comum apenas à roda. De repente, alguém falou do último jogo do Palmeiras, ou do Flamengo, ou do Grêmio. Pimba! Um mequetrefe na mesa ao lado já se intrometeu, analisando o pênalti que não foi marcado, a má qualidade do campo ou do jogador, e vai emendando opinião em cima de opinião a ponto de não permitir o velho papo sobre o tal assunto comum apenas à roda.

Você está na porta de uma loja, ouve um ruído próprio de colisão de veículos a alguns metros dali. Meio de longe, o carro se parece com o de seu colega da empresa e você se dirige ate o local do sinistro, a tempo de ver a retirada de algumas pessoas de dentro do carro. Um amigo seu está por perto e começa a conversar sobre o acidente. Pimba! Entre vocês dois aparece o “maledito”, sempre com um exemplo semelhante, um julgamento inconsequente, do tipo “deve estar drogado”; ou: “esse cara só dirige no limite” ou coisa que o valha. Aí, meu caro, a sua conversa vai pelo ralo.

Quem dentre vós, mortais, não já se deparou com um tipo assim em dia de domingo, no horário de visita a parentes internados em hospitais? Em me ponho a pensar sobre o que vai na cabeça dos doentes quando chegam os legítimos representantes mequetréficos. Eles invadem os quartos sob as mais vãs justificativas (em geral para “pregar a palavra”) e acabam, mesmo, cortando rente uma conversa otimista entre visitantes e visitados. E começam afirmando que alguns membros da família deles tiveram as mesma doença; “Só o meu tio não sobreviveu, que Deus o tenha... Ah! Uma vizinha de minha sogra também morreu com a mesma doença ”... e por aí vai. Termina o horário da visita e, o que era para valer uma palavra de consolo, se converteu num tremendo pesadelo para o pobre acamado.

Enfim, chegamos à pior espécie: o mequetrefe que adora visitar velório alheio, sem sequer ter conhecido o de cujus.

Preciso detalhar?

Elber Suzano
Enviado por Elber Suzano em 13/07/2008
Código do texto: T1079009
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