Quando chegam os filhos.
Quando chegam os filhos.
Para alguns o positivo é há muito aguardado, para outros uma total surpresa, mas independente do quanto se planejou, organizou, poupou, pensou e desejou, a chegada de um filho é sempre um território desconhecido e como tal nos proporciona sentimentos de medo, alegria, angustia, entusiasmo, mas acima de tudo uma sensação única de completude.
Mesmo que por breves momentos, um filho nos traz essa fantástica sensação de que tudo basta e que estamos completos nessa vida, pois nossa historia agora poderá ter continuidade. Sim! Para isso temos filhos, para continuar nossa historia, principalmente quando já tivermos passado o bastão da vida adiante. Se não os filhos, quem poderá continuar a corrida por nós iniciada?
Filho não deve ser um projeto de vida, não deve ocupar o lugar de nossas faltas, sendo obrigado a realizar os nossos planos, não serve para vestir sonhos senão os deles próprios, filhos não têm que fazer pai e mãe felizes, mas sim se fazerem felizes, pois isso será a tranqüilidade dos pais. Filho é nossa historia passada a limpo em outro tempo, escrita por letras próprias e com um pouco de consciência e sorte, com final feliz, ou seja, com novos filhos, nossos netos.
Para os que esperam a chegada de um filho, sabem o quão emocionante é o ouvir do coração no primeiro ultra-som, sentir em seu corpo de mulher um gerar de nova vida, algo que ocorre sem nosso controle, por mais que a medicina nos oriente, é nessa hora que sentimos o “milagre da vida” e a plenitude do ser humano. O pai presente se orgulha, emociona e muitas vezes se choca com esse momento, pois, ainda sem forma definida, sem um corpo formado, um feijão ali na tela que bate um coração, uma nova vida que vem chegando.
Aos pais que buscam seus filhos na adoção, o toque do telefone é sempre um momento de especial espera, pois, diferente dos nove meses da gravidez, muitas vezes a “gestação” é muito mais longa e a espera é difícil, mas, qual não é a felicidade quando esse filho chega. Filho esse com certeza sempre esperado, sempre desejado.
Pai é atividade aprendida, ensinada um pouco pela mãe e outro pouco pelo filho. Pai no inicio se sente excluído, pois não carregou o bebê na barriga, não teve o parto, não amamenta e na maioria das vezes nos primeiros dias os bebês ainda choram quando vão para o colo do pai e ficam distante da mãe.
Alguns pais se afastam, outros se entristecem, mas alguns corajosos e orgulhosos, brigam por um lugar ao sol nesse mundinho tão pequeno de mãe e filho e conseguem se aproximar, garantindo tranqüilidade para a mãe exaurida do pós –parto, muitas vezes angustiada com o peso e sobrecarga que a vida maternal coloca para a mulher. Um pai presente é aquele que abraça a mãe, carrega o filho e aos poucos aprende a fantástica linguagem dos bebês, interagindo com a voz e o olhar.
Pai é coragem, audácia, voz forte, gestos intensos, que o bebê aos poucos aprende a distinguir da mãe, que aos poucos aprende a amar e se aventurar diferente do que faz com a mãe. Filho e mãe em geral é aquela manha, com o pai é farra, se a mãe é cheia de cuidados, vê perigo em tudo, cabe ao pai a tesoura dourada que rompe esse cordão e lança o filho no mundo. Mãe é bicho cauteloso, pai é audaz. O Pai ensina o que a mãe se angustia. Mãe dá bicicleta com rodinha, pai dá skate, tira as rodinhas e solta o filho desprotegido a pedalar por aí e ainda sente orgulho! Mãe coloca na aula de música, karatê, natação, judô, leva no psicólogo, medico, dentista e tudo mais. Pai faz pipa, corre atrás da bola, ensina o mergulho, luta todo dia quando chega a casa após o trabalho “testando” o filho, ou às vezes simplesmente como um ato de cumprimento. Já viram como é? Mãe quando está fora e chega diz “Querido como está? Você ta bonzinho (a)?” “Mamãe sentiu tanta saudade!”. Mãe moderna é assim, cheia de saudades, quando não, uma culpa danada de tudo. Pai quando chega diz – “ E ai´filhão toca aqui (e manda ver um comprimento cheio de movimentos , bate mão, fecha mão e por ai vai), nem as meninas escapam, porque o pai em geral joga pro ar, belisca as bochechas , faz cosquinhas na barriga. Enfim , mesmo com a participação mais integrada dos pais na educação dos filhos, pai tem dessas brincadeiras que só pai entende.
Há um comercial que diz “Quando nasce um filho, nasce com ele, pai e mãe” e de fato só quando nasce é que nos damos conta do que isso significa e de como aos poucos nos moldaremos a esse novo papel, que se carrega tanta responsabilidade, também nos proporciona tanta felicidade, nos tornando mais humanos, mais vivos, mais inteiros.
Parabéns a todos nós, que nos aventuramos nesse maravilhoso mundo selvagem de ter filhos, cientes de nossa responsabilidade em educá-los para a vida e na certeza que não estamos sozinhos, mas que sempre poderemos contar com um Pai maior que está no céu.
Um abraço
Susana Bueno de Souza.
(esse texto foi premiado em terceiro lugar no concurso internacional de literatura pela Editora AG. e foi publicado no livro de antologias “Ritmo Vital” em 2007)