EU QUASE MORRI NA PRAIA - DE CANSAÇO

Pronto. Estava prestes a realizar o meu SONHO DE VERÃO, para tanto juntei dinheiro o ano inteiro e no escuro através de terceiros, aluguei uma casa na praia. Imaginava desfrutar as delícias de uma preguiça bem vivida, do nada fazer e já me via deitada numa rede na varanda de pernas pro ar, ouvindo o barulho das ondas (seria a glória!)

Mas nada deu certo... O meu desespero começou antes da partida: no supermercado, tamanho o volume de dinheiro que por lá deixei em troca dos suprimentos que esperava suficientes para um mês, tempo da minha permanência naquilo que presumia ser um belo de um descanso.

Avisados os parentes, os amigos e até a comadre, que pretendia me ausentar da cidade juntamente com a família e por delicadeza o convite à cada um , que pela praia aparecessem.

Feito isto, eis que é chegada a hora da nossa partida. Por sobre o teto do carro, os colchões e dentro amontoados, nós, o cachorro e a bagagem. E lá fomos rumo ao “paraíso”, sentindo nas costas a cada solavanco do carro, a pontada do bico de uma prancha de surf, que meu filho teimou em levar junto com ele. Depois de quase duas horas, sem conseguir descruzar as pernas, posição imposta desde o início da viagem, alcançamos a praia. Partimos para a localização da casa, que era de difícil acesso e o areal existente não permitia levar o carro até lá. Enfileirados, iniciamos o transporte dos nossos apetrechos. Concluída mais esta tarefa, passamos a explorar o que seria o nosso lar temporário. Daí concluímos: pia da cozinha entupida; descarga do banheiro quebrada, nenhuma gota d’água nas torneiras, sem contar com a sujeira existente.

Exaustos vimos chegar à noite, foi quando nos demos conta que a luz havia sido cortada por falta de pagamento e junto ao medidor, contas não pagas. Jantamos em silêncio à luz de velas.

A essa altura o humor da família não mais existia, só o desejo contido de um linchamento e pelos olhares, a vítima seria eu mesma.

E dormimos. Outro dia se fez. Não encontrando em mim forças para levantar diante das batidas na porta da frente e como insistiam parti para o esforço e me pus de pé. E lá estava de malas e bagagens, a comadre, o compadre, quatro filhos e de quebra a cunhada, o marido e mais dois filhos para o fim de semana!

Não, eu não bati a porta, entraram todos. E assim foi por todo o veraneio, também vieram os meus amigos, os amigos do marido, dos filhos, os amigos dos amigos, os parentes e aderentes. E como comiam! E o quanto bebiam! E eu a fritar peixe, lavar pratos e jogar água na privada!

Quando a noite chegava ficava a tropeçar nos corpos estirados por sobre os colchões pelo meio da casa até alcançar o quarto, onde deitava e nem tempo sobrava pra sonhar que logo chegava o outro dia.

Não lembro se vi o mar. Da rede da varanda nem pensar, sempre estava ocupada por alguém que não era eu.

E agora, cá estou de volta um cansaço só, tentando por em ordem o que sobrou de mim...

Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 13/07/2008
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