Grande leilão
Ao subir a Travessa Conde de Porto Alegre, ainda não tinha virado a rua, observou com atenção a oferta do terreno onze por trinta pronto para receber construção e em área construída. O dono facilitava pagamento. Morava numa casa simples com copa, varanda e cozinha, jardim de inverno e terraço. Na parte alta da Rua Felipe de Oliveira havia morado durante anos.
Amanhã, quarta-feira, às vinte e trinta horas pelo leiloeiro Bosne Leite, em seu armazém, à Rua dos Andradas, cento e dezenove será liquidada, ao maior preço, todos os finos móveis, a saber: uma eletrola de armário, toca-discos long-playing de marca afamada. Fina mobília de sucupira nova para sala de jantar. Uma cristaleira. Conjunto de imbuia de bom gosto. Um piano inglês marca Colard& Colard, caixa de nogueira, teclado de marfim e ótimas vozes. Um abat-jour, um liquidificador elétrico. Quatro cobertas de porcelana para jantar com quarenta e duas peças e desenhos obscenos diferentes com dourados. Jarras, vasos, cinzeiros de ferro. Uma bússula. Um espelho riquíssimo de cristal com artística moldura esculturada. Tapete. Lustres de cristal tcheco. Quadro a óleo, gravuras, marinhas. Um papagaio, um cachorro e um aparelho de barba.
Chama-se atenção para este leilão de lotes de primeira ordem: a retirada dentro de quarenta e oito horas com sinal de vinte por cento sobre o valor de cada compra.
Observou o anúncio do leilão. Agora era um homem simples apenas com um apartamento próximo ao prado.