O início
Por mais estranho que possa parecer, meninos têm sonhos profissionais que nunca são alcançados. Mesmo quando realizam uma vontade infantil, muitas vezes não se sentem realizados com a profissão escolhida. O fato não é tão raro como se pensa. Mas a história que quero e vou contar não é esta.
O pai de Yuri, um guri de sete anos de idade, havia sido jornalista enquanto estudava Direito. Tudo indicava que ele se transformaria num colunista político brilhante, mas não. De posse da autorização que permitia ele advogar em qualquer foro ou tribunal do país, ou seja, o ingresso na Ordem dos Advogados, despediu-se dos colegas e amigos e nunca mais colocou os pés numa redação de jornal.
Começou trabalhando num escritório de respeito e logo de respeito transformava-se num advogado também.
No seu escritório de casa, onde preparava muitas petições, não tinha máquina de escrever. Yuri ficou sem fala quando viu chegar a Olliveti. Crianças são curiosas, todos sabem. Mas a reação do guri era como se estivesse vendo um objeto encantado.
Pediu ao pai que escrevesse alguma coisa, e o homem não se fez de rogado. Logo estava feita uma pequena carta endereçada ao filho, datilografada. A atenção do moleque era total. Agradeceu ao pai, beijou-o e disse que um dia também iria possuir máquina igual. Dormiu sonhando com o acontecido.
Acordou, o pai levou ao colégio, pegou um ônibus e seguiu para o trabalho. O colégio de Yuri era muito próximo da sua casa. A aula acabou, ele almoçou com a mãe e o irmão e partiu célere para a Olliveti, sob os protestos da mãe. Não queria ver danificada a maquina de escrever. Estes pirralhos costumam transformar uma geladeira num ferro de passar roupas, e não perguntem como. Mas não. A folha de papel branco foi colocada com extremo cuidado, a mãe reparou admirada o esmero do menino. Em pouco tempo, estava catando milho, dobrava o papel e datilografava desta forma, estava numa atividade incessante. Volta e meia parava para escutar a notícia do rádio. Quando deu por encerrado o seu trabalho, colocou na pasta escolar.
A mãe queria ver, mas ele estava decidido. Só mostraria quando o pai chegasse, o que não demorou.
Orgulhoso, sacou a folha da pasta e entregou solenemente ao pai. Era um jornal, com nome, data de fundação e várias notícias que ele ouvira no rádio. Havia dobrado o papel para fazer como as notícias aparecem nos jornais, em colunas. Yuri havia feito em jornal com capricho e cuidado, mas estava aborrecido por não ter fotografias. Ele pensou em recortar e colar, mas neste caso o jornal não seria dele, teria material estranho.
Pai e mãe ficaram admirados. Todas as principais notícias do dia estavam estampadas nas duas folhas de papel; o pai havia ensinado a ele como se fazia um jornal, depois de tantas perguntas. Via o resultado. Autorizou o filho a usar a Olliveti.
Yuri é hoje um escritor realizado. Colunista político de importante jornal do país, igualmente. Sua máquina de escrever tem teclado bem diferente, não usa papel, mas tela de cristal líquido. A Olliveti, perfeita e em condições de uso a qualquer momento, está carinhosamente guardada.
Como eu sei toda esta história? Ele me contou, ora!