PCDP

PCDP

Dr. Ernesto era um político diferente de todos que se tem conhecimento. Falava pouco, de ouvidos atento. Costumava no final da tarde ir ao um barzinho de esquina. Sempre sentava em um canto, o pedido era o mesmo na maioria das vezes: água com gás. Sentado no lugar de costume, ouvia a conversa que transcorria ao seu redor. Todos ali reclamavam da situação do país.

- Somos representados por um bando de incompetentes. Ladrões e mentirosos. Em suas campanhas é tudo uma maravilha. Até churrasquinho de graça eles servem, ninguém joga limpo. Uma pouca vergonha! Bando de hipócrita. Essa coisa de política não passa de uma piada. - Dizia alguém. Outro apoiava o companheiro:

- Acham que nós é que somos os palhaços e são eles que vivem em um “circo”!

Todos já um tanto “altos,” concordavam que o país tinha de mudar.

Ernesto ao ouvir tais coisas teve uma brilhante idéia.

Certo de que iria ganhar as eleições, pulou a fase de vereador e se candidatou logo a prefeito...

Homem corajoso...

Acontece que durante a campanha eleitoral ele negava-se a falar de suas propostas. Jornalistas e candidatos do mesmo partido estavam curiosos, pois Ernesto só se limitava a dizer:

- Honestidade em primeiro lugar.

Sabe-se lá por que cargas d água resolveu falar, no último comício do partido.

O povo estava curioso e os jornalistas em polvorosa. Eis que ele começa seu discurso assim:

- Senhores e senhoras aqui presentes. Obrigado por me conceder vosso tempo. Se votarem em mim, tenham a certeza que nunca esconderei nada de vocês. Sempre falarei a verdade, doa a quem doer.

Nesse momento o público aplaude o Dr. Ernesto.

- Vejam vocês – continuou – que até meu nome tem rima: Ernesto rima com honesto. E se há uma coisa de que me orgulho é falar francamente. - enfatizou.

Mais uma vez foram-se ouvidos muitos aplausos.

E ele estava certo de que tinha a multidão em suas mãos. Naquele momento alguém lhe apresentou uma criança, muito pobre.

- Fazendo jus ao meu nome, não tolero crianças, ainda mais “ranhentas.” - como estava concentrado no texto que decorra, para ser bem convincente, não viu a cara de surpresa dos eleitores. E continuou com seu discurso:

- Na primeira oportunidade desviarei dinheiro dos cofres públicos. Não tenho nada contra receber propina, sou totalmente aberto para novas experiências. Não me preocupo com asfalto, não precisarei dele, pois andarei apenas no meu jatinho particular. Minha família é enorme, tenho 16 irmãos, sendo eu um exemplo para a sociedade, todos trabalhará ao meu lado para mostrar a união familiar. Segurança pública para que? Declaro que não haverá ladrão durante o meu mandato, apenas eu tenho o direito saquear vossas carteiras... Quanto à pobreza, vou acabar com ela, erradicando os pobres. Na educação não pretendo mexer em nada. Pobre não precisa de estudo, apenas devem saber pagar os impostos. Quanto á saúde, lixo, esgoto, etc.etc. Não sou coelhinho da páscoa e Papai Noel não existe. Estou pensando em fundar o meu próprio partido. Vai se chamar PCDP, Partido Cara de Pau.

O silêncio que havia no local, foi por ele interpretado como um sinal de adoração, e um significado: Respeito por ser tão objetivo e direto. Muito convencido pensava: - Serei reverenciado por toda a vida! Tudo o que esse povo precisa é de pessoas que digam a verdade.

Quando terminou o discurso, esperou os aplausos que não vieram. As pessoas estavam como em transe, hipnotizadas diante do absurdo. Alguém na multidão tomou a iniciativa e começou a vaiar e logo foi acompanhado por outros. Vozes indignadas gritavam feito trovão, se olhar matasse certamente ele seria fuzilado... Ninguém sabia explicar como surgiram ovos voando na direção do palco.

Foi irreal presenciar toda aquela sujeira. Parecia impossível uma só pessoa possuir tanta ousadia e falta de respeito. Indignados e perplexos, um a um deram as costa ao homem. Concluíram que decência e honra não se adquire vem de berço.

Ele reclamou:

- Vão ingratos. Depois reclamam que os políticos são mentirosos, que apenas prometem e nada cumprem, enquanto vocês não são coerente ao falar o que desejariam. Ao menos eu pretendo cumprir tudo que disse. - continuou - É por isso que o país não vai para frente, o povo gosta de viver de “ilusão”. Quando se fala a verdade ninguém credita. Saibam todos que o meu sobrenome é sincero. Sem trocadilho...

Alexandra D. Ribeiro

Junho-2008

Alexandra Dias
Enviado por Alexandra Dias em 12/07/2008
Código do texto: T1076728
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.