ERA UMA VEZ...

ERA UMA VEZ...

O título acima é tema de uma crônica da saudosa Clarice Lispector e faz parte de uma coletânea de textos livres da autora, rotulados de crônicas publicadas sob o título “Para não Esquecer”.

Embora reconhecendo, que o meu obscurantismo e a minha incursão acanhada pelo mundo das letras, desautorizam-me a estabelecer paralelismo entre as minhas idéias e as de outras vozes mais altas já levantadas, atrevo-me, dentro de uma visão menor, abordar o mesmo tema.

Sou estupidamente travada quando me proponho a arrancar qualquer coisa de mim mesma, não consigo debulhar mágoas passadas (já o fiz no divã do analista), em todo caso, como não sou de ferro, saiba disto o leitor/leitora:

Talvez por uma questão de carência, exerça sobre mim um fascínio especial as histórias que começam por “era uma vez”, e que não me foram contadas. Criança quis ouvi-las. Adulta quis escrevê-las. Hoje, a frustração do fato anterior bloqueia-me a imaginação e sei apenas dizer: "era uma vez". Minhas homenagens, portanto, a Clarice Lispector, que foi mais além e conseguiu:”Era uma vez um pássaro, meu Deus”. Extensivo a todos àqueles dedicados escritores que, com a sua imaginação abençoada, foram e são capazes de povoar mentes infantis de sonhos tão necessários, não importando que mais tarde nos transformemos no escravo citado por Descartes, que gozava de uma liberdade imaginária e quando começou a suspeitar de que essa liberdade era apenas um sonho, temeu ser despertado e conspirou com essa ilusão agradável para ser mais longamente enganado, permanecendo na sonolência a ter que enfrentar o conhecimento da verdade que lhe viesse esclarecer as trevas das dificuldades que teria de enfrentar vida afora

PS: À mestra e escritora MARÍLIA PAIXÃO, com carinho. As verdades contidas sobre o amor no início de vossa crônica “MAIS VALE UM AMOR QUE QUALQUER COISA”, publicada neste Recanto, tocaram fundo o coração de uma remanescente romântica. Quando a senhora nos convida não só a pensar, mas sentir o amor seria aconselhável que a vossa sugestão fosse acatada, para que não se tornem concretas, também no nosso tempo, as palavras de Barnave, que já na sua época reclamava, pois assim deixou escrito: “Voilá done Le beau miracle de votre civilisation! De l’amour vous avez fait une affaire ordinaire”.

Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 12/07/2008
Reeditado em 12/07/2008
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