Por mais terras que eu percorra

Falar a respeito dessa moça com quem viví 46 anos seria tarefa prá gente muito mais competente e menos comprometida, que pudesse ter sobre ela um olhar mais isento que o meu.  Porisso, não vou nem tentar, esperando que a "Flor Enigmática" me desculpe pois certamente esperava outro tipo de crônica.  

Tentarei passar apenas um pedaço da minha experiência pessoal, com a voz do coração e economia de palavras, pois que todas seriam poucas.

A minha relação com ela começou como a grande maioria das experiências de qualquer menino deslumbrado, descobrindo de pés descalços um mundo a cada dia. 

Era uma menina generosa e esticou um dos seus braços na minha direção e permitiu que nele eu brincasse sem cuidado e sem medo. Birola, maranhão, bola e balão. Reino Independente da Rua 5, só limitado pelo Território Autônomo da rua 8. 

Fui crescendo junto com ela. E a menina de então, por quem eu já era apaixonado sem nem ao menos desconfiar, foi se mostrando em toda sua lascívia. 

Descobrí ao longo do tempo o melhor e o pior de sua anatomia, percorrí todo o seu corpo e nele encontrei muitas alegrias e algumas poucas tristezas, grande prazer e alguma frustração, tantas as vezes nos amamos e algumas nos desencontramos nessa longa convivência. 

Hoje, simplesmente me recuso a admitir suas rugas. Conhecí outra moça aparentemente mais bonita e charmosa, mas não é Você, Campinas.

Por mais terras que eu percorra
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá!

(Canção do Expedicionário, Guilherme de Almeida, poeta Campineiro)






 


Leo Della Volpe
Enviado por Leo Della Volpe em 12/07/2008
Reeditado em 22/03/2011
Código do texto: T1076355
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