Narcografia, a lógica da rede

Em telecomunicações virtuais há um espião em cada clique como um agente federal em cada poste. A elaboração de um código penal para a web é a primeira luta interna da coisa contra o homem. O homem de bem não ficará isento da impunidade. (Sic) O provedor será obrigado a delatar. Dentro do aparelho montado de delações a inquisição virtual pegará Vovô que acessou todas as revistas pornográficas disponíveis. Vovô que precisa de lei específica quanto aos seus direitos pessoais inalienáveis no caso da internet.

Decerto o leitor deve estar perguntando sobre que inferno de coisa é essa tal narcografia. Narcografismo ou narcografia é a existência de legislação sobre a automação, essa mesma automação livre para consumo, e que não consta como anterior ao processo de facilitação do delito. Vocábulo novo. Observando o ponto de generalização abusiva das palavras que definem o suposto crime de usuário exposto a experimentação. Aponta aquilo que vicia diante da manipulação de imagens e informações ao grau da dependência dos processos gráficos da imaginação. Resumo da experiência com a imagem produtiva em alto grau e independente do custo. Narcografia é toda imagem estimulante criada no sentido da apetência, da fome de consumo.

Desse ápice narcográfico temos a máquina. A boazinha máquina com visor que pode virar crime e vive dentro de casa. Traz sistemas sigilosos. Sistemas protegidos de tal forma que Vovó num dia de bobeira acessou o que não devia topando imagens com os dedos de parkson nas teclas macias. Ficando confusa com o efeito praticado em meio à complexidade das imagens oferecidas Vovó mergulhou numa verdadeira babel de pontos para clicar e seguiu metendo os dedos. Botou senha em todas as páginas, fechou abas, caiu fora da página indevidamente, copiou a imagem que achou bonitinha e enviou sem saber para onde imagens que não sabe bem de quem. Fez outras coisinhas isoladas a mais de relance e em segundos como é natural. A pena prevista para Vovó será de um a três anos de reclusão medieval. Vovó colocava as coisas mais feias dentro do computador no sentido de que se alguém andasse lhe espionando acabaria por encontrar aquele monte de vergonheira! Bem feito!

Além do mais considere um conjunto de papéis com signos e números se agrupando de forma escalonada na mesa de cima dos controladores da coisa no comando do fascismo virtual. Inimigos desconhecidos espalhando cartas e sentenças no maior conforto. Restará apenas um usuário com o código de defesa do consumidor na mão, inutilmente, no mundo encantado da web em busca de meios onde só se plante a alma da abnegação. Base da inocência estúpida versus conhecimento maduro. Recai sobre o comprador o “crime de utilização” que devia ser diferente de todos os outros itens de máquina. Ninguém compra um liquidificador ouvindo alguém dizer: cuidado com os sucos que você tomar! Estamos legislando.

O que temos aqui é o perigo de erro de interpretação mesmo nos casos mais patentes. O computador é incomparável porque leva com os ventos o sujeito até a loucura da curiosidade. Algo imanente à inteligência. Primeiro você experimenta sem compreender perfeitamente qual é a jogada de toda a trama de sistemas sobre os ombros do consumidor. A máquina angelical da loja permite que quadrilhas de tecnizados roubem senhas, executem transferências, roubem até por experiência criativa. Portanto Caro Comprador de Computador saiba que está levando para dentro de casa milhões de aborrecimentos no tocante a utilidade. Problemas de manipulação que não consta no manual de instruções. Manual que até hoje vem sendo elaborado sem consenso e seguirá o exame até o ano setenta mil. Levando em consideração que a sede da evidência pode ser forjada pela maquineta pelo provedor de acesso no entra e sai das instalações do qual deriva, ninguém sabe até que ponto o pepino veio do pepineiro. Os senhores da técnica dirão: “nós sabemos!” Quem é que sabe o que estão fazendo com você usuário neste momento em termos de internet? Bilhões de erros, bilhões de enganos, bilhões de intrigas. Tudo para acompanhar a praga moralista da correção do vício de origem da máquina nas costas do usuário. A mesma maquineta criada para acesso informativo além das relações humanas segue sua evolução destruindo velhos mercados para construir uma nova ordem. A lei para web encerrará o ciclo de atração passando para a ofensiva. O que sabemos é que há um espião em cada clique. Os modernistas já diziam: toda legislação é perigosa! O computador em si é o IP do narcografismo. Por pior que tenha sido o usuário ele é antes um empregado, enquanto animador virtual, sob o efeito do mais poderoso fetichismo já inventado pelo homem sobre a faceta da terra. Suas ações são na verdade sublimações do embuste a que se submeteu com o nome de interatividade. A lei será sempre extemporânea quanto ao universo virtual. Ela não poderia submeter o seu ritual político contra o único sítio de domínio do individuo sobre o objeto, objeto dúbio, duvidoso para efeito público, como podemos notar por meio de notícias cuidadosamente elaboradas para salvar as aparências em sua total profundidade. Objeto sacralizado no mais perfeito romantismo de automação da época, antônimo dos efeitos do carro sobre o mundo. Pára o homem em casa plantando-o na sala como objeto falho em construção. As imprecisões jurídicas ganharão contorno de generalidade o que é um crime contra a tese. E o cidadão, pobre, cidadão, sempre culpado, sempre submisso, compra um computador para se sentir avançado na escalada da evolução. Começa a chover dinheiro em casa por causa da tecnologia. O pai fica feliz dizendo: esse meu filho é um Gates. Ninguém é burro para dizer que não sabe nada, sobretudo a lei não lhe define como livre. Jamais.