Meu Quarto, Meu Mundo
Devido a um problema de saúde, me afastei de minha atividade profis -
sional. De repente necessitei de um repouso e durante quase um mês, o meu mundo se resumiu ao meu quarto. Fiquei realmente de “molho’. Ao meu lado, o criado–mudo, uma moringa com água, livros, revistas, um rádio-relógio e uma prancheta para minhas anotações. Na minha frente uma tv e um Dvd
Quando eu estava com dor não conseguia fazer nada, porém, nos momentos em que ela me esquecia eu olhava para a varanda e admirava as plantas, sentia o cheiro das flores e passava algum tempo vendo o bailar de um beija-flor que diariamente me visitava. Quando respirava bem fundo sentia o cheiro de maresia, e com um pouco de imaginação meus olhos repousavam no verde-azul do mar, no barco a vela que deslizava tranqüilo, ouvia o canto dos quero-queros e sentia meus pés descalços na areia da praia e me banhava no mar.
Às vezes para me distrair, sintonizava o rádio-relógio na FM na Associação daqui do Bairro e me deliciava com o excelente bom gosto de sua programação.
Toda manhã, pela janela de minha suíte, o canto de um canário do meu vizinho me alcançava e apesar da extrema beleza, eu sentia vontade de vê-lo livre, em seu silêncio de liberdade interior.
Algumas horas do dia, buzinas, derrapagens, freadas de carros me irritavam, mas tudo isso era suavizado pela brisa que chegava da varanda que me acalentava.
Durante todo esse tempo tive a companhia de minha cadela da raça Shit Tzu. Ela não saiu do lado da minha cama, acompanhava todos os meus movimentos, nada fugia ao seu olhar atento. Ela realmente parecia sentir as minhas dores, virava a cabeça como se me questionasse, como se buscasse respostas para a minha melancolia. Seu olhar era de tristeza, já não mexia o rabo com a mesma intensidade, era visível que me entendia. Naqueles dias, ela foi minha cúmplice e meu conforto, o reflexo de minha alma.