O DIA QUE MÁRIO PAROU AS PROVAS

           

            Certa vez, numa faculdade pequenina - daquelas que só tem alunos que querem o diploma: os professores fingem que ensinam, e os alunos fingem que estudam-, era dia de prova. Um desespero que só vendo. Provas surpresas. Ninguém tinha estudado nada, como era o costuma, pois não se estava mesmo em semana de provas.

 

Aquele alvoroço. A notícia das provas surpresas assumiu a velocidade da luz. Antes mesmo dos professores chegarem nas salas, a notícia já tinha matado o coração de uns dois, outros rezavam, outros estavam preparando colas, e outros “arrumando” a sala: Mario sempre sentava na frente de todo mundo. Seu nome nunca foi falado por tanta gente ao mesmo tempo. Um playboy até lhe prometeu uma namorada. Uma colega sua, que nunca tinha falado com ele, chegou com todo um charme, perfume Carpe Diem, vestido “à prestação”, e lhe pediu que ele se sentasse em sua frente. Foram as propostas mais inconvenientes possíveis.

 

A primeira coisa que o professor fez ao entrar em sala foi mudar o Mário de lugar:

- Aqui Mário! Do meu lado.

 Provas nas mesas, eram lápis que caiam, canetas que falhavam.

 Mário, mesmo antes da prova, vinha sentindo uma certa indisposição. Resultado: toilet! O professor não queria deixar o homem ir fazer as suas necessidades, afinal se estava na hora de prova, mas a insistência foi tanta que não teve jeito mesmo.

 Bem, a coisa devia estar mesmo ruim para o Mário. E enquanto estava ele em seu momento soberano, suava frio, e esfregava suas mãos de  um modo frenético, angustiante e doloroso.

 O mau cheiro começou a ser sentindo nas salas. Os professores fecharam as portas, mas não teve jeito. Sabe como é, né?!, mau cheiro entra mesmo, sem dó. Alguns que nem tentaram fazer a prova, nem conseguiam entrar no banheiro:

 - Nossa! Esse daí morreu, só falta enterrar.

 O odor estava impossível, ninguém conseguia respirar. Alguns alunos começaram a reclamar:

 - Ah, Professor! Assim não dá para fazer a prova.

- Me recuso a ficar nesse recinto.

- Deve ter sido algum cano de esgoto – tentou o professor, mas fez foi piorar a situação.

 Alguns já iam saindo, quando o reitor, secretário, tesoureiro, coordenador do curso, professor e limpador dos vidros, o seu Alberto, falou:

 - Devido ao meu cheiro, as provas estão suspensas.

- Suspensas? – perguntou o um ao seu Alberto, que era o reitor, secretário...

- Sim. Por quê?

- Então quer dizer que vai ter outro dia? – perguntou o dois.

                   -     Sim, naturalmente.

       Todos saindo, muitos felizes, com alguns panos no nariz, até que:

- Cadê o Mário?

- Quê Mário? Aquele que te... – perguntou o palhaço de plantão da sala.

- Não, seu idiota. O Mário da nossa sala! Cadê ele?

Um olhou para o dois, que olhou para a quatro, que não olhou para o três, porque não estava lá, e o engraçadinho da turma, rindo largamente:

- É ele que está no banheiro! Eu vi na hora que ele saiu correndo para o banheiro.

A risada foi de todas, e notícia de quem foi o autor daquele delito rasgou as conversa paralelas, assim como a notícia das provas surpresas e do mau cheiro.

Mário saiu do banheiro todo suado, feito um porco. Chegou à sala não viu ninguém. Estranhou. Dirigiu-se à saída do único corredor que a faculdade tinha.

Lá fora, tinha um faixa, com letras tipo castellar, tamanho 42:

“OBRIGADO MÁRIO! VOCÊ NOS SALVOU!”

Algumas meninas, bem bonitinhas, aproximaram-se, com um pregador no nariz, e o abraçou, entregou-lhe uma faixa, tipo de miss, e deu um beijo no rosto dele. Ainda bem que: o que o nariz não cheira o coração não sente! (?)

Foi uma salva de palmas já mais vista naquele espaço acadêmico. Uns puxaram até um coro, embora sem muito sucesso:

- Mário, da gente! E do C.A., o presidente!

 

O professor chegou perto do Mário, com aquele ar desconfiado, e perguntou:

- Recebeu quanto para isso?

- Na..nada, – balbuciou Mário – estava mesmo com dor de barriga! É sério: ovo frito, vaca atolada, camarão, macarrão, molho inglês apimentado, maionese, coca-cola....

- Chega! Tudo bem! Mas estou de olho no senhor, viu?

Mário ficou conhecido pelo aquele fatídico dia, como o homem que salvou das temidas provas surpresas.

Nunca mais deixaram Mário sair na prova para ir ao banheiro.

Em todas as rodas de conversas, durante uns dez anos depois de terminada a faculdade, ainda se comentavam.

Uma vez, seus amigos e o Mário num rodízio de pizza, quando o Mário começou a sentir a barriga falar, resultado: toilet.

Os três saíram de fininho, e dando uns sorrisinhos maliciosos.

            - Sacanagem com o dono do restaurante... Vai ficar indignado – Previu o engraçadinho do começo da história.