No banheiro público

Após três horas chacoalhando, desembarquei do Vale do Tietê, na Barra Funda. Efetuei o ritual costumeiro: espreguicei-me inteiro imbuído da ilusão de que o cérebro e o estômago ocupassem seus respectivos lugares; bati a mão na cara a afugentar a turvação da esquálida viagem. E olha que nem fora das piores; o motorista era dos melhores.

Subi a escada e dirigi-me ao banheiro costumeiramente lotado de "angüicidas". Vazio. Fiz posição de sentido, dei uma cuspidinha, inflei o peito, cara ao teto, abri a braguilha, soltei o pau e xóóóóóó...

Foi o suficiente para entrar um fubano todo-todo, pisando firme, cantarolante e cumprimentando o faxineiro com intimidade. Fez o mesmo ritual que eu acabei de descrever com um detalhe a mais que revelo mais a baixo.

Nossa, que picão! Nunca vi um troço daquele... Mas agüentei firme e do teto não tirei o olhar. O cara continuava barulhento. “Filho duma quenga! Fica humilhando os outros só porque tem um pinto de jumento” pensei. O troço era grande mesmo. Se fosse peito, seria pra mais de litro de silicone.

Resolvi, então, dar uma olhada de verdade. Do teto, lentamente, fui tirando o foco visional e o conduzi ao recôndito do olho, o famoso olhar de viés. Gente, era o cinturão do cara! O pinto não passava de uma muxiba ordinária perdida entre prepúrcio e pêlos!

Como é que o fuleiro me dá tamanha mancada? Dá toda pinta de que tem super-cacete e depois me apresenta àquela esdruxuleza? E por que desabotoar o cinto para urinar? Fuleiro!

Felizmente, se percebeu a rápida olhadela, não deu nenhum sinal. Houvesse ele feito a tradicional cara de desprezo e xingamento “baitola”, ter-lhe-ia aplicado uns tabefes ali mesmo, dentro do banheiro público, para ele aprender. Quem tem uma porcaria daquela, mija escondido, dentro da casinha, com a porta cerrada.

(Esta foi só para não passar em branco a sexta. Não estou com vontade de escrever, não).