O SENTIMENTO E A RAZÃO

Vou começar minhas considerações sobre estas vertentes de acepções filósificas através das significativas ponderações do Papa João Paulo II, publicada em uma Encíclica, onde ele faz um cotejo entre a razão e o sentimento, no seguinte sentido: “A razão sem o sentimento é fria e implacável como os números, e os números podem ser fatores de observação e catalogação da atividadade, mas nunca criaram a vida. A razão é uma base indispensável, mas só o sentimento cria e edifica. É por esse motivo que as conquistas do Humanismo jamais poderão desaparecer nos processos evolutivos da humanidade. O sentimento e a sabedoria são as duas asas com que a alma se elevará para a perfeição infinita”.

Essa inspiradora e inteligente constatação de cunho filosófico sobre o racicínio lógico e o sentimento nos leva à mais notória reflexão como fonte de convivência humana, pois as diversas relações existentes entre os homens, permitem que estes assumam condutas que estejam relacionadas tanto com a razão como com o sentimento. O ideal é que ambas as formas de ação humana se integrem num mesmo elemento, de forma tal que o comportamento se entrelace entre os dois paradigmas.

Mas, infelizmente, não é isso o que ocorre na maioria das condutas humanas, pois o progresso e a urgência para as soluções do problemas acabam sufocando um desses lados, fazendo prevalecer a frieza das ações, para que o equacionamento daquela dificuldade possa ser imediato, mesmo que atinja alguém na sua essência de viver. Assim, é comum que alguém racionalize uma operação mercantil para que ela atinja um estágio de lucro, cujo itinerário pode significar prejuízos significativos para quem seja algum obstáculo, podendo ocasionar desemprego, fome, miséria etc.

Presume-se, assim, que a busca pelo lucro atinge o sentimento das pessoas, magoando-as em algum estágio de sua vida. Daí dizer-se que o sucesso de uma empresa, em certas ocasiões, depende de ações que ultrapassam a consciência de quem dirige. Esse fato gera o rompimento entre a razão e o sentimento.

Todavia, em determinados casos; uma situação atropela a outra e nem por isso podemos dizer que o autor dessa proeza agiu sem sentimento. É o caso, por exemplo , de um pai que tem de agir racionalmente para educar o filho, por essa razão, toma atitudes que fere ou magoa seu pupilo, no entanto, a própria característica da conduta obriga uma posição firme tendo como essência uma razão, mas nem por isso inexiste sentimento, pois este está embutido no bem maior que é o bem do próprio filho.

Assim, podemos dizer que há compatibilidade entre um e outro. Isso não nos autoriza que tenhamos em nosso cotidiano alguma atitude que afaste a razão do sentimento. Ao contrário, para o bom andamento das relações inter-pessoais é preciso que haja um equilíbrio entre esses polos de filosofia humana, eis que tudo o que é bom para o corpo também é bom para a alma. Assim, podemos dizer que a razão é mais própria para a matéria e o sentimento mais adequadro ao espírito, pois sempre que agimos racionalmente para resolver uma questão qualquer em torno de nossas vidas, estamos buscando alternativas inteligentes de resolver nossos problemas pessoais, no entanto, quando apelamos pro nosso sentimento, verificamos que certos posicionamentos nos causam alerta da consciência e chegamos até a ficar deprimidos se não administrarmos de uma forma que satisfaça nosso mundo interior.

Destarte, agir com razão em nome da ética faz a pessoa se sentir em paz com sua consciência, causando a sensação de pureza na decisão. Mas, agir com razão em nome de um determinado objetivo pessoal que implique em atingir direitos alheios; apenas em nome de uma fórmula matemática, certamente, causará na alma uma ressonância negativa, embora alguns tenham se adaptado a esse procedimento e por essa razão aprenderam a lidar com o remorço sem que essa sensação lhe atinja na consciência.

Em todo caso, muitas vezes – como lição de vida – é preferível agir com o coração do que com a razão. Quem tem sentimento e conserva seu coração aberto para o amor, nunca abandonará o socorro à alguém necessitado em nome de uma questão racional, como por exemplo, parár seu veículo num lugar perigoso – como a linha vermelha no Rio de Janeiro – para atender um acidentado. Evidentemente, que essa decisão depende de alguns fatores relacionados com o instinto de defesa, eis que um pai de família se estivesse sozinho em seu veículo e visse uma cena como essa, não pensaria duas vezes para atender a quem estivesse em dificuldade, porém, sua reação seria outra se estivesse acompanhado de sua família, pois aí colocaria em cheque a segurança de entes queridos e não apenas a sua segurança pessoal.

Enfim, o que todo ser humano bondoso tem em seu íntimo – como elemento de sua personalidade – é a inequívoca vontade de servir a quem necessita. Isso independe da razão. Nesse caso, o único ponto de referência é o sentimento de altruismo que se sobrepõe em qualquer hipótese, seja em nome de um bem material ou em nome de um bem espiritual.

Pudera se todos os homens da face da terra pudessem entender que o sentimento de bondade é um dom divino, que tem como única essência o amor. Esse é o sentimento que o nosso Criador colocou em nossas vidas como fonte de nossa existência. Trilhando o bem e entendendo que a vida é só uma oportunidade para evoluirmos no mundo Universal, estaremos fazendo a nossa parte como gente e como ser transcendental.

Machadinho
Enviado por Machadinho em 11/07/2008
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