Ingressão de ar pra poesia
Vivo no agora-único sob os alicerces de uma acústica tremeluzente. Três parâmetros engessam e dinamizam – por mais paradoxal que seja, mas sinto em informar que é assim – o correr de minhas substâncias: uma duração latina que altera os significados dos meus pressupostos; uma intensidade pseudo-permanente que contrasta e tonifica as minhas neurastenias – a partir de um nada aparente, vem de dentro, bem de dentro, um magma humano querendo vozear as sensações, gritá-las para logo depois enfraquecê-las por falta de pressão subglótica -; e, finalmente, uma freqüência fundamental advinda dessa minha tensão vocálica, gritálica.
Freqüência? Sei, sei. Sim, freqüência! Freqüêêêência... Não importa mais o sistema cartesiano de minhas entoações. Só se consegue perceber um jogo maniqueísta entre assertivas e indagações no cosmos infiel, visto sob um prisma de dois tipos: um agudo, estridente e outro grave, bem colado à superfície.
Como diria Lispector, não é a vida que superexige da gente, mas é a gente que superexige da vida. Seria cômodo internalizar a simplicidade vital, mas é da natureza humana tentar complicar os fatos para dar um quê de glória aos seus atos cotidianos. É instintivo do indivíduo de 32 cromossomos metaforizar a sua existência a uma freqüência fundamental, sentir-se, pelo menos uma vez na vida, o mais baixo componente de uma onda sonora complexa.
Aí você vem e me diz: “É. E?”. Tudo bem, Hertzinho metido à besta. A impossibilidade do ouvido humano de identificar essas suas freqüências formânticas me consola. As únicas coisas que eu posso fazer pela sua falta de entrelinhas e calcificação de derme são: abrir ao máximo a minha cavidade oral e bocejar, colocar a 180 graus o ápice da língua e me despedir de vossa senhoria com um arredondamento de lábios à distância, produzindo um ligeiro e irônico clique – muack.
Beijonãomeligaporquevocênãotemingressão
dearprapoesia.