ISABELLA, SENHOR X E O PEDÓFILO IMORTAL

Isabella, 5 anos. Jogada do sexto andar de um prédio em São Paulo.

Senhor X, identidade preservada, 83 anos, seis filhos adultos. Há um ano e meio era espancado covardemente pelo acompanhante Laurimar Ribeiro, 33, ex-auxiliar de eletricista. Um jovem forte, aparentemente “um doce de pessoa”, preso nesta sexta-feira (04/04) em Taguatinga no Distrito Federal, após três dias de gravações feitas pela família desconfiada ante queixas sussurradas pela vítima tomada pelo medo.

Ao repórter do Brasil Urgente, antes de ser detido, Laurimar falou da profissão e disse ter no idoso “um amigão”. Não foi o que mostravam as imagens capturadas pela câmera escondida no cabelo de uma foto de Jesus Cristo.

Isabella era saudável.

O senhor tinha osteoporose, feridas nas pernas e pés por causa do Diabetes, Mal de Alzheimer e Mal de Parkinson.

Uma jovem.
Um idoso.
Uma criança iniciando a vida.
Um senhor quase se despedindo dela.

Entre eles, pessoas sádicas, desumanas, “loucas” de ocasião.

Isabella não pôde continuar. Embora tenha sido encontrada de bruços e ainda respirando, não resistiu e na sexta à noite, na Igreja da Candelária (SP), foi celebrada a missa de sétimo dia pela sua morte. Cerca de 800 pessoas se espremeram no templo com capacidade para 200.

O senhor, espancado até esta mesma sexta-feira, livrou-se do carrasco.

Isabella pode ter sido morta por vingança pelas mãos de um desafeto do pai, pelo próprio pai, pela madrasta ou por ambos. Havia sangue da menina no apartamento. O pai desconhecia e não disse à polícia.
Nossos monstros, definitivamente, estão entre nós. Normalmente dentro da nossa casa, sob o mesmo teto.

Tive o desprazer de conhecer um bem de perto. Por sete anos e meio, de 1990 a 1998, Cida (nome fictício), amiga pessoal, dividiu a vida com um pedófilo. Bem antes disso, livre de qualquer suspeita, era um grande amigo nosso dos tempos de faculdade. Ele não trabalhou enquanto casado, mas teve roupa, comida e carinho.

Colocou o sobrenome dele na vítima e filha da então mãe solteira. Ela tinha 3 anos e meio. Antes dos quatro, ele iniciou a molestação. A agressão psicológica e sexual, alegando agir a mando da esposa, durou os sete anos e mais três de “brinde”. A vítima, calada, não contou nada à suposta mandante: sua mãe.

Há três anos, após presenciá-lo em ato suspeito com o filho biológico, ela soltou a bomba. A submissão a este monstro durou dez anos. Dos 10 aos 14! Descoberto, ele forjou uma tentativa de suicídio. Um ponto num dos pulsos e um telefonema de despedida para a mãe. Claro, sobreviveu.

Sem saber como agir, deprimida e louca, Cida buscou as autoridades competentes: delegacia especializada e Ministério Público. Mas a filha estava com 19 anos e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que muitas vezes protege marginais incorrigíveis (infelizmente é verdade), já não podia mais fazer nada por ela. Se fosse um ano antes! Os “amigos” também não tomaram partido. Não eram eles os pais da criança.

A vítima não tinha forças para levar o caso à justiça comum. Se calou. Disse que preferia assim.

Ele? Continua em tratamento. Afinal, pedofilia é crime, mas é doença.
Ela? Não teve direito a nenhum amparo. A família dele, salvas exceções, a tornou, como ela própria observou, a Lolita mais nova da história. Uma menina com menos de quatro anos seduzindo um homem de 30 e poucos anos. “Amar “X” foi o meu maior pecado”, confidenciou ele à ex-esposa por telefone. Mas esta conversa, cheia de detalhes dantescos, não foi gravada. Uma breve confissão, tempos depois, sim. Bem como a postura dos pais dele. A mãe na defesa. O pai –separado da mãe – decretando não ter mais nenhum vínculo com o MONSTRO.

Mas este monstro se tornou IMORTAL da Academia de Letras da cidade dos Veloso, trabalha, divulga arte digital no youtube e diz ter cinco livros publicados, todos postados em seus cinco ou seis blogs.

Também tem perfil no ORKUT e muitos amigos (as) jovens.

Extremamente criterioso, o então eterno apaixonado declarado da ex-mulher, costumava marcar no calendário todas as terças-feiras – dia de início do namoro. Foram milhares creio.

Terá contabilizado as vezes que bolinou a filha-enteada, a data que a desvirginou? Ele diz não poder responder a isso. Só quando acabar o tratamento.

E assim segue esta vida louca. Que o diga a menina de 12 anos, encontrada presa por cordas em Goiânia numa das sessões de tortura de “tia” Silvia, já presa e que torturou seis crianças ao todo, com grau de violência crescente. Só uma vítima teve coragem de denunciá-la, mas a mãe biológica negou, alegando ser mentira as afirmações da menina. Não era, viu mamãe?
Que Isabella descanse em paz.

Que o Senhor X possa terminar os dias sem maus-tratos.

Quanto ao pedófilo imortal, que encontre as merecidas pedras no caminho. Tropece nelas e algumas lhe caíam à cabeça. Quem sabe assim, ele não se atira de um sexto andar e se auto-flagela até a morte.

Não tenha pena.

Orem pelas vítimas nunca pelos algozes. Monstros merecem ser esmagados, destruídos, isolados. Não são como um Corcunda de Notredame a sofrer por má formação do corpo. São mentes alucinadas e conscientes, capazes de alegar loucura para abreviar a culpa e escapar da condenação.

São frios e dissimulados, como o rapaz que dava porrada no velhinho e jogava a urina da sonda sobre a cara do mesmo, o “amigão” de minutos antes de ser preso em flagrante.

Não se engane. Há o bem e o mal. E, pior que isso, há quem saiba ser aparentemente do bem sendo uma pessoa muito má.

Esperemos para ver quem matou Isabella e torçamos para que nosso jurássico Código Penal não deixe livre quem é condenado a centenas de anos. O torturador do velhinho vai pegar de dois a oito anos, inanfiançáveis. Não é pouco para o que fez?
Torçamos para que alguém de bom coração e inteligência saiba parar de usar o cartão corporativo para comprar tapioca e faça algo para prevalecer a Justiça antes que esta passe a ser feita à base do dente por dente, olho por olho.
Se bem, que até funcionava!


NR: Publicado no site Crônicas Cariocas dia 4/04/2008
Iza Calbo
Enviado por Iza Calbo em 10/07/2008
Reeditado em 23/07/2008
Código do texto: T1074426
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