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Águida Hettwer
 
 
...Abri as janelas da alma, me permitindo a sonhar, o calor do sol adentrando, contagiando de energia o lugar que antes era frio e sombrio. Vislumbrando a paisagem colorida que muitas vezes passou despercebida, a vida descortinando pela frente, o vai e vem das pessoas nas ruas, vivências do quotidiano que nos fazem parar para pensar. Em uma esquina da cidade, sobre papelões e porções de lixos reciclados uma família, tinha seus momentos de ternura e cumplicidade. Uma mãe aconchegava no colo um dos filhos adolescentes, sem se importar de onde estavam e como estavam. Ela retirava dos cabelos do menino, pequenos ciscos, enquanto acariciava a face. Os dois ali, maltrapilhos, sujos e sobre restos, tinham um momento de carinho e afeto, que em muitas mansões confortáveis e espaçosas, o amor não permeia nas famílias. Fez-me refletir o outro lado da vida, os valores que criamos, os projetos que almejamos, corremos atrás do vento, para um momento da vida, perceber que muitas coisas não têm sentido. Deixamos de lado o essencial, o palpável, o toque, a palavra de carinho, o incentivo dedilhado nos gestos. Passamos a vida apontando erros, em vez de proclamar soluções. Acumulamos lacunas nas relações, distanciamento e medo. Onde deveria ter cumplicidade e abertura para diálogo franco e sem receio. Quantas coisas poderiam ser evitadas, se pudéssemos arrancar a máscara que desenhamos e está moldada a face há tantos anos. Quando será que os anseios reprimidos, vão criar asas, e ter a coragem de lutar, em vez de estar estagnados no mesmo lugar. Por que será que damos o verdadeiro valor a vida, quando a doença precisa sanar. São tantos os porquês? –Que me fazem pensar!
    Choramos pelos mortos, fazemos homenagens após falecimentos, e em vida, não nos damos o trabalho de partilhar sentimentos e admirações. O que há de errado na mente humana, os valores estão deturpados. Há falta de amor nas relações, mas um amor que aceita o semelhante sem fazer exigência, que usa da inteligência e compreensão. Quantas famílias seriam resgatadas se fossemos menos orgulhosos e presunçosos. Quantos pais e filhos poderiam ser grandes amigos. Quantas carícias poderiam ser trocadas entre cônjuges, se retornássemos ao primeiro amor, aquele que faz palpitar o coração, nos fazem “bobos”, mas que traz ao espírito felicidade plena. O valor a vida na sua magnitude, onde possamos buscar bons espelhos, seres especiais lapidados para viver em qualidade de vida, proporcionando a si mesmo o direto de fazer e ser alguém feliz, independente das circunstâncias. Somos protagonistas da nossa história, a tempo, de retornar no tempo e recomeçar.
 
 
10.07.2008