SERÁ...?

Pegando carona na “cadeira do papai”, deixando no entanto, o meu explícito protesto contra a restrição feita às mamães, que não tiveram ainda a criação de uma cadeira especial. Feito o meu protesto, vamos aos fatos, como ia dizendo, sentei-me na “cadeira do papai”, de forma confortável, diante da telinha aguardando o Jornal das Oito. Este gesto me fez lembrar o Dr. Pereira, meu vizinho aqui do lado. Ele também tem uma “cadeira do papai” e religiosamente a ocupa para ficar diante da telinha e assistir o Jornal das Oito, metido num pijama de listras azuis, por sobre as pernas, o controle remoto, que vez por outra seus dedos tocava como numa caricia e talvez pensando lá com seus botões: “ô invenção porreta!”

Se eu fosse analisar a figura do dr. Pereira, diria que ele estava mais pra monstro do que pra médico. O homem era de uma insensibiliade que me exaspera, nada o toca, nem por time de futebol ele torce. Torce sim, pela alta da inflação; é aplicador do open, over, caderneta de poupança e investia na Bolsa. Enquanto eu e a sua mulher chegávamos às lágrimas com a notícia do seqüestro de uma criança, ele estava lá, diante da telinha e por ela desfilando: a vida, (dos outros) que não lhe interessava; a morte, que não lhe tocava; os atentados, que não lhes chocavam; o seqüestro, que não lhe dizia respeito; a crise econômica, que não lhe alcançava; as queimadas, que aos seus olhos céticos, mais pareciam um festival pirotécnico.

Por que diabo o Dr. Pereira é assim tão insensível? Será porque ele é médico-legista, aplicador, rico e latifundiário?

O Jornal acabou, a mesmice de ontem. Hoje não vivi as tragédias desfiladas. Será que estou ficando que nem o dr. Pereira?

Será...?

Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 10/07/2008
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