Um Editor e Max Brod

Estava feliz com o seu apertado dia de trabalho. Novas redações haviam sido depositadas em sua velha mesa de mogno. Incontáveis letras para análise da mente brilhante sobre a coisa literária. Reservava o período da noite atravessando em claro para ler e lia e treslia calhamaços. Levava um mês indeciso quanto à publicação de conto ou seleta em prosa e verso. Primeiro o Vasconcelos era para ele um grande escritor. Sobre o ponto de vista morfológico tinha lá suas dúvidas. Era leitor e editava. Já Vera era possuída, crítica ferrenha de Keynes a quem tratava de pertinho como irmão. Tinha o defeito das frases tortuosas. Jamais publicaria nada escrito pela Vera. O Tratado Xamã – do José de Alencar Clark Jr. fora lido entre um conhaque e outro e era literatura de quinta.

Ligou a secretária eletrônica. A voz da máquina era toda dedicação: Amanhã Max Brod em pessoa virá conversar sobre originais às quatorze horas. Adeus. Foi surtindo em seguida um bip estridulado levando a voz ao desaparecimento. Precisavam de referências sobre o tal Max.

Somente às dezenove horas lhe caiu em mãos o famoso relatório Max Brod. O assunto é sobre um homem atormentado pela angústia. Um amigo seu, escritor. Tata falava de modo que o relatório atormentava, estendendo as vogais ao máximo: é sobre atormentado já falecido. Diminuiu o tom da voz de modo respeitoso. Decidida narrou de chofre: Um amigo de Max Brod havia morrido e ele não havia encontrado forças para queimar aqueles papéis em suas mãos. Sentia-se alguém de posse nenhuma. Preso a certa dimensão incomparável da exposição suave e lenta da vida até as garras da melancolia. Havia jurado queimar os originais na aurora prática do fogo obtido da primeira lenha naquela manhã fria. Faltou-lhe... Sei lá o quê! Disse terminando o assunto. (Tata bateria mais tarde na testa dizendo: se o homem pediu para queimar porque não queimou?) Fez uma careta dispensando um lamento: Ó penoso carregar de um verdadeiro pesadelo! Era assunto do ramo literário.

Max Brod acrescentou elogios ao Autor dizendo que o amigo quase havia faturado um prêmio literário com o pseudônimo “Himmel in Eigen Cassem” cujo significado é: O Céu Nas Ruas Estreitas. Tata se alongou inteira para saber do resultado. Pigarreou: desclassificado. Ah! Mas na condição de livro e com capa podia ser bem diferente. Deu-lhe esperança.

Como uma obra literária sem premiação poderia sobreviver a ele mesmo? Angustiado com tamanha sinceridade ordenou que Tata cancelasse a entrevista, frisando: com amabilidade, diga-lhe ao tal Max Brod da impossibilidade de..., pois se encontrava de fato atarefado. Não era hora de publicar nada hermético.