POVO PACATO -  PÉROLAS QUE NINGUÉM ME CONTOU.

Ninguém me contou.
Eu vi e li tudo.
Em pouco mais de meia hora que levei para fazer umas pequenas compras no comércio que ainda estava aberto, num domingo à tarde, na cidade praiana
                                        I
No caixa do primeiro mercadinho:
Mas o que a senhora deseja?
Eu estou explicando... Mandei o tantã do meu filho comprar uma dúzia de ovos, um refrigerante de guaraná e um quilo de açúcar.
Sim, e daí?
Ele comprou meia dúzia de ovos, o refrigerante de uva e um quilo de açúcar..
E?
Eu quero a dúzia de ovos, porque o refrigerante ele abriu no caminho.
Pode pegar os ovos que faltaram.
Obrigado.
Peraí, senhora... A senhora falou meia dúzia... E tem que pagar...
Meu filho trouxe de volta a meia dúzia.
Ai, meu Deus... Leva o ovo, leva o ovo, mas sai da frente da fila. Só me diz uma coisa:
A senhora disse que o seu filho é tantã? A senhora é o quê?
                                    II
Enquanto aguardava minha vez na fila li uma publicidade na parede:
Não falte à sensacional Vaquejada na Rodovia Pedro “Táxi” (para quem não conhece a rodovia, chama-se Taques) Km. Trezentos e alguma coisa.
Atenção – Quem estiver portando armas será convidado a sair.
Ué, mas o porte de arma não é proibido?
Estão vendo como tem cidades que ainda vivem no passado.
A Lei ainda não chegou lá.
Por falar em lei, estava seco para tomar uma cerveja e fui procurar a dita cuja em garrafas, pois detesto latinha.
                                    III
Não encontrei a cerveja, mas escrito na parede de um bar tinha em letras garrafais uma pérola.
Devo ter sonhado, mas eu juro que li:
“É proibida a venda de álcool e entorpecentes à menores neste local.”
Sem maiores questionamentos, será que é permitida a venda de entorpecentes à maiores?
Desisti de tomar a cerveja e decidi ir ao shopping assistir um filme
                                          IV
A sessão só começa às 19 horas.
Muito obrigado. Tem acesso para deficiente?
Não tem, mas a gente ajuda a carregar na escada.
E devem ter muitos deficientes na cidade, porque no dia seguinte enquanto estava na fila de um mercado maior, eis que na fila especial dos idosos, grávidas e deficientes estava um motoqueiro. 
Pelo menos parecia.
Estava de capacete.
Fiquei na dúvida e fui conferir.
Será um coroa motoqueiro?
Não era.
Grávida nos primeiros meses?
Era um homem.
Agora sim, está explicado...
Não resisti e perguntei, armando barraco. Uma delícia.
O senhor é idoso ou está grávido?
Era deficiente...
Fez-se de surdo e se mandou.

Resumo da ópera:
Tantos tantãs vivem em terra sem lei, onde os deficientes não têm acesso ao lazer, tem suas filas furadas por espertos.
Povo pacato.
Ninguém reage.
Convidam os que estiverem armados a se retirar.
E se eles não se retirarem e se elegerem?
Pedro Galuchi
Enviado por Pedro Galuchi em 09/07/2008
Reeditado em 09/07/2008
Código do texto: T1072933
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