A vida vale a pena?
A vida vale a pena? (texto de Susana Bueno de Souza)
Cuidar de um bebê é algo muito interessante, nos toma tempo, sono, energia física e psíquica, além de exigir muita paciência com o mundo ao redor, mas, sem dúvida alguma é uma enorme alegria.
Há momentos únicos de angústia, dúvidas e prazer que só tendo filhos para saber. Mas, para mim nada se comparou a maravilhosa experiência que pude viver duplamente ao amamentar meus filhos.
Uma sensação de imensa satisfação era ver as crianças crescendo através do alimento que meu corpo produzia um momento que me proporcionava paz e por vezes uma oportunidade de pensar sobre a vida.
Recordo-me em especial de um dia, ou melhor, de uma madrugada no final do ano de 2005. Estava amamentando meu filho mais novo, na época com 3 meses e estava tão exausta que sentia cada parte de meu corpo doer; uma vontade imensa de dormir doze horas seguidas sem ter nada para pensar ou fazer no dia seguinte, mas estava a andar pela casa acalentando seu corpinho tenso e perturbado pelas famosas cólicas infantis.
Nesses momentos, parece que os minutos tomam a forma de horas e os ponteiros do relógio ficam paralisados. O tempo não passa e a exaustão toma conta.
Como já passava de duas horas da última mamada, resolvi oferecer o leite materno para, quem sabe, através do contato direto com minha pele ele se acalmasse e adormecesse assim eu também descansaria um pouco já que sentia surgir uma discreta irritabilidade em decorrência do cansaço, nessa hora então me veio um pensamento sobre a Vida e o nosso viver.
Não estava pensando na minha vida terrena, mas na entidade “Vida”, porque em geral vemos a vida como algo que se liga ao tempo por nós marcado em calendários e relógios. Uma necessidade humana de delimitação a fim de que possamos compreender a relação tempo x espaço, mas que na prática isso é quase impossível de medir.
Como podemos medir uma Vida? Podemos marcar como meses e anos, como bebê, criança, jovem, adulto e velho, podemos afirmar que em cada cultura ela é marcada diferentemente pelos valores a ela depositados, então, como marcar universalmente a Vida?
Recordei-me de algumas cenas das tragédias ocorridas naquele ano de 2005, onde inúmeras famílias perderam todos seus bens, mães perderam filhos nas enchentes, terremotos, tsunamis, além das guerras e terrorismos causadores de tantas mortes. Lembrei-me das doenças fatais que levaram alguns amigos e parentes, provocando dor e tristeza. Nessa hora pensei que assim era marcada a Vida, por acontecimentos e as marcas deixadas por eles.
Nascimento e morte, sorrisos e lágrimas, perdas e ganhos. A vida já não mais individualizada, mas globalizada pelos satélites, onde podemos acompanhar todas as vitórias e derrotas, todas as conquistas e fracassos, alegrias e tristeza, epidemias e curas quase que instantaneamente ao ocorrido. Vida que ficou mais rápida pelas informações, pela tecnologia dos celulares e internet.
Assim estava marcada a Vida, havia encontrado a resposta, mas ao cruzar os olhos com o olhar de meu filho, já quase adormecido, calmo e tranqüilo em meu colo, uma nova resposta surgiu.
A vida pode ser marcada por diversas fontes e mídias, mas só é válida mesmo quando existe amor, amor que deseja outra vida e suporta o peso que ela nos traz, amor que se doa sem nada cobrar, que é capaz de esquecer-se momentaneamente de si em prol do outro.
Nessa categoria de amor, incondicional e imensa, só o olhar de bebê pode nos proporcionar e isso com certeza vale a pena!