Ampliando a auto-estima

 

Quanto mais procuro respostas para as questões do crescimento psicológico e desenvolvimento da espiritualidade, mais evidente fica o abismo entre eles. Um abismo intransponível talvez, pois existem várias razões para essa separação, sendo que uma delas está na própria história da psicologia científica, que segue o caminho aberto pelas ciências da natureza, e como tais procuram a precisão da matemática. Um caminho totalmente oposto ao da espiritualidade e até conflitante com os dogmas de algumas instituições religiosas. Meu interesse pela psicologia está relacionado ao estudo da alma, como indica sua etimologia: Psyche, “alma”, e logos “ciência” e, apesar de possuir apenas alguns conhecimentos que mal ultrapassam o que poderíamos chamar de psicologia popular, é uma ciência que me fascina.

Atualmente, assistimos a uma avalanche de livros com diferentes abordagens para todos os males da sociedade, que misturam sínteses de estudos científicos com correntes do pensamento espiritual. Contudo, o que mais tem me chamado à atenção é o destaque que vem sendo dado à auto-estima, empregada nas mais variadas esferas, como a espiritualidade, educação, trabalho e delinqüência, em termos tão surpreendentes que muitas vezes parecem opostos.   

Nas muitas abordagens apresentadas como salvadoras nos livros de auto-ajuda esquecem de relacionar à auto-estima a alma ou o “self” como os estudiosos preferem chamá-la, tem papel fundamental na formação humana, pois é a presença do Divino em cada pessoa. 

 A auto-estima é importante para a construção da personalidade e é determinante no que queremos ser ou fazer na vida. Ter a auto-estima equilibrada é fundamental para conquistar o espaço necessário para o crescimento humano. Ela é feita de amor próprio e de autoconfiança, exige muitos esforços, combinados com inteligência e vontade, uma vez que inteligência e vontade separadas não levam a lugar algum.

Essa crescente procura pelo crescimento espiritual encontra no “self” a estrutura necessária ao seu desenvolvimento, tornando esta busca uma clara evidência da ligação da espiritualidade a psicologia, apesar de ainda existir a forte concepção de ver o ser humano como um corpo ligado a uma substância pensante. Mas a inovação e a curiosidade científica vem sendo influenciada por este entusiasmo popular pela espiritualidade, e estudos ligados a este tema, são cada vez mais numerosos nos congressos científicos.

A conquista da auto-estima e da estima do “self” requer o esforço de desenvolver o amor próprio e adquirir autoconfiança, além de amar incondicionalmente e se deixar guiar no comprimento da própria missão. Para tanto, é necessário o exercício da passividade ativa, isto é, do esperar acreditando, confiando, mas sem deixar de fazer. É ter fé, acreditar no invisível e agir, confiando que o melhor pode ser alcançado.

Nossa auto-estima atual foi construída através da percepção que temos de nós mesmos. Eventuais interferências, julgamentos ou valores dos outros não podem superar a autopercepção, uma vez que a descoberta das próprias qualidades e fraquezas, através da reflexão, são determinantes para a auto-estima. Neste sentido, a auto-estima pode ser construída, tendo por base o valor da pessoa, ou seja, do valor infinito de ser único. A outra forma, é enfatizar as aptidões da pessoa humana.

A primeira parte do reconhecimento de que a pessoa é única da aceitação de todos os seus traços pessoais, emoções, qualidades, erros, necessidade... A outra, surge do reconhecimento das próprias aptidões, isto é, da disposição de confiar em ser capaz de corresponder aos desafios da vida e se considerar digno de ser feliz. No entanto, este não é um dilema, pois é perfeitamente conciliável amar a si mesmo e ser valorizado pelo rendimento e aptidões que se possui. É a autopercepção que torna a pessoa consciente dos diversos aspectos da sua personalidade.

Entretanto, cada um de nós percebe de diferentes formas os próprios traços físicos e psicológicos, qualidades morais, capacidades e limites, forças e fraquezas, entre tantos aspectos da personalidade, assim vamos construindo a nossa própria auto-estima. É inegável que a questão da auto-estima é fundamental para o desenvolvimento humano, porém, deve ser equilibrada. Se estiver ausente, anula a personalidade e conduz a infelicidade, mas presente em excesso, destrói qualquer personalidade. Quem nunca encontrou aquelas tristes personalidades “que se acham?” Que parecem ter perdido a consciência do que é ter bom senso e humildade.

 E, é neste dilúvio de teorias para a felicidade a auto-estima é apresentada como fundamental, no entanto, embora importante, é apenas uma pequena parte do autoconhecimento necessário. Esta é mais uma abordagem relacionada a aspectos comportamentais, com posicionamentos até provocativos, que faço, visando à reflexão e o despertar da consciência para estas questões. Além disso, vejo no autoconhecimento a melhor forma de alcançarmos o crescimento pessoal, sempre de forma equilibrada, da mesma forma que um maratonista procura dosar suas energias para que possa chegar ao fim de sua jornada. Pense nisso.