Andando em Divinópolis
Edson Gonçalves Ferreira
Quando passo perto da antiga Usina do Gravatá, onde Teatro Municipal Usina do Gravatá, lugar encantado onde, na minha infância, ia com meu pai Arlindo Ferreira (o Bigode) para almoçar na casa do capataz, fico encantado. As lembranças tomam conta de mim. A orquestra em que meu pai tocava ensaiava ali. Enquanto nós, meninos, brincávamos, Papai tocava o seu pistom e eu, deslumbrado, ficava virando a partitura e aprendendo as notas musicais. Meus irmãos se soltavam nos jardins em volta.
Divinópolis, apesar de ter mais 300 bairros, cerca de 300 mil habitantes, ainda é uma cidade relativamente pacata. Até no Centro, às vezes, encontramos famílias na porta da casa, batendo papo e, no verão, descascando laranjas enquanto os meninos jogam bola no meio da rua e as meninas, pulam maré. Nos bairros, isso é muito comum. Essa semana mesmo, há barraquinhas tanto no Santuário de Santo Antônio quanto na Catedral do Divino Espírito Santo. E, ali, gente de todas as idades circula feliz, esquecida da violência que assola o país, mas que, graças a Deus, não chegou até Divinópolis, graças à polícia e associações.
Quando tenho tempo, adoro sair e ir para a Pracinha do Santuário, principalmente, quando, aos domingos, tem a feira de artesanato. Nada compro, mas admiro os trabalhos e converso com os artesões e, depois, divulgo na minha coluna, o belo trabalho deles. Depois, dou uma volta de carro para conferir a feira de carros usados que movimenta o bairro Bom Pastor. E, quando a noite chega, se tenho companhia, passo na ponte do Niterói para ver o pontilhão-de-ferro iluminado que, graças a minha teimosia, ganhou iluminação decorativa.
O mais delicioso em gente é o prazer de conhecer quase todo mundo. Aí, então, qualquer visita vira festa. A gente entra, toma cafezinho, chazinho, acompanhado com biscoitos de maisena, de fubá e aquele queijinho delicioso e, muitas vezes, roscas caseiras -- da Maria José Santos e da Maria José França, mamãe! -- pães-de-queijo e isso, amigos e amigas, sem falar no arroz doce -- o da Marilda Teixeira, então! -- no doce-de-leite, na goiaba caseira e, meu Deus, nos licores caseiros. Que tentações. Às vezes, algumas amigas me mandam café-da-manhã ou, então -- não é, Cléria -- trufas, ai meu Deus, ai!
Agora, o mais gostoso de Divinópolis é a sua gente pacata, trabalhadora, com raríssimas exceções. Divinópolis, segundo Dr. Carlos Altivo, “é uma cidade que cresce enquanto seus políticos dormem”. Ele tem razão, pouca coisa devemos aos políticos, porque, infelizmente, pouco fazem pela cidade. Não tiro o mérito de gerir a cidade, mas isso é trabalho normal que qualquer prefeito tem que fazer. Agora, se há emprego para a população que aqui mora não é por causa de nenhum político, mas por causa da garra do nosso povo que investe, por exemplo, na fabricação de roupas. A cidade que era pólo da industria siderúrgica, agora, virou pólo da indústria têxtil.
Assim, o que o nosso Hino fala é a pura verdade: “Sadio é o civismo que anima tua gente, afeita ao trabalho, à conquista do pão e o Itapecerica, em sua gleba virente, deriva em murmúrio que é quase oração”. Só resta uma ressalva, estão deixando o nosso rio morrer, estão deixando a lagoa da Sidil morrer e, portanto, fica aqui o meu protesto. O rio deriva agora em agonia que é uma oração da agonia. Fora isso, venham conhecer a Divina Polis, a terra do Espírito Santo, com seus poetas fantásticos e seus corais divinos e, principalmente, com seu povo super hospitaleiro.
Agora, se você quiser conferir o retrato da turminha que, gostosamente, se reuniu em minha casa, para aquele jantar descrito em versos, abra nelsonporto.com e veja na coluna social e, aguarde, pois, em breve, registraremos uma reunião que deve acontecer na casa de Dona Maristela Fernandes, comemorando seus 92 anos de fecunda primavera.
Divinópolis, 08.07.08