Apenas ouço...
Esta solidão que ocupa o meu ser com nada, tem no silêncio do nada a minha companhia presente.
Posso isolar os ruídos que me interessam e transformá-los em melodias lunares. Posso afastar os ruídos que não me interessam e transformá-los em sucatas interplanetárias.
Ouço prazerosamente e fascinado o som dos átomos solares, mesmo que neste ocidente ainda seja noite.
Ouço magistralmente e encantado o som emancipado da deusa liberdade, que se libertou dos deuses opressores do universo e encontrou pousada no meu silêncio.
Ouço amigavelmente e enobrecido o som excluído da deusa fraternidade, que se afastou espontaneamente dos deuses tiranos de todas as galáxias e pousou como um pássaro livre na minha solidão.
Ouço voluntariamente e solidário o som inimaginável da deusa igualdade, que fugiu das correntes torturantes dos deuses poderosos do mundo conhecido e encontrou pousada no meu silêncio e pousou como um pássaro livre na minha solidão.
Ouço passos discretos, descompassados e conhecidos. Sinto-me aliviado e confortado por conhecê-los, pois assim é mais fácil direcioná-los. Para isso, basta encontrar um local secreto e inviolável. Também é necessário que seja seguro para mim. Ouço os passos ainda discretos, descompassados e conhecidos, porém, mais audíveis que outrora, e, sei que estão cada vez mais próximos. Não me parece grande nem pequena, e manca exaustivamente de uma das pernas. Talvez golpearam-na devido a alguma invasão surpresa. De repente, “pimba”! Joguei-a no lixo e fechei-o. Maldita barata!
Este ócio, que ocupa o meu ser solitário com nada, tem no nada o silêncio e ambos me acompanham.