Poeta desnecessário
Não existe mais a minha poesia. Todas já foram escritas, e mais, não existe espaço nem interesse pelas letras versadas.
Minha ocupação com os versos é deveras ilusão, pois jamais encontrarei um verso que não tenha passado pela pena de algum poeta. E mesmo que este verso seja apenas a minha verdade, não encontrará exclusividade alguma, pois a minha vida não passa de uma perfeita nulidade, e mais, tão igual a tantas outras.
Não existe mais a minha poesia. Os versos que já não existiam, foram trocados por uma prosa sem fundamento, e esta, mesmo caduca e inexpressiva se adaptou aos moldes da comunicação contemporânea. Minha ilusão com os versos é deveras teimosia e fracasso, pois jamais haverá espaço para as minhas epopéias ou para as minhas visões e alucinações sobre a vida. Meus poemas não têm a linguagem musical, e mesmo que tivessem, seriam cópias ou adaptações mal acabadas de outros poemas.
Não existe mais a minha poesia, nem o poeta, apenas existe um corpo humano com a sua fisiologia supostamente saudável, porém, eternamente em prantos, que vaga sem rumo e sem entender absolutamente nada da vida e dos versos. Estes foram devorados pela minha própria ignorância, que faminta e obstinada pelo fracasso do sucesso, se converteu em lixo literário, e hoje, dorme o sono dos infelizes e ineficazes numa caixa de papelão velha. Esta paciente embalagem ainda guarda em seu estômago alguns exemplares dos clássicos da literatura. Mistura o tudo com o nada e amarga o sofrimento silencioso dos escravos.
Não existe mais o poeta, tampouco jamais existiu. O que existiu, foi um pesadelo na vida daqueles que leram os meus versos. Talvez, nem sejam classificados como pesadelos, pois jamais alguém os esquece.
Meus versos desapareceram do público para prevenir que possíveis leitores desavisados e viciados na leitura lessem estas letras desordenadas e espalhadas pelo livro.
Esta descrição da alma humana não passa de quimera na minha pobre imaginação.
Não sei o que estou, e, tampouco sei o que sou.