Ignorância

A ignorância, esta voluntária obreira dos religiosos e poderosos, se acomoda ao meu lado como se fosse a luz que veio de um universo desconhecido. Armazeno na minha memória, como que acorrentado e destituído dos meus reais valores, apenas a fração de segundo que passou. Conclamo, talvez inutilmente, a todos os deuses, se é que existe algum de plantão que me ouça, a restituírem o meu inexpressivo, porém, vívido passado. Tais orações e meditações não surtem o efeito desejado, talvez até pela cólera inofensiva que toma conta do meu ser inofensivo.

Não suporto o cárcere sem a busca de conhecimento. Não acredito que este confinamento seja obra de qualquer deus, pois a este deus caberia o título de déspota e nada seria tão humilhante quanto esta acusação de tirania.

Se for para ser ignorante, que não se acanhem os julgadores: trancafiem este ser ávido por conhecimento no mais incomunicável dos presídios. Tirem dele todo o objeto de desejo que possa orientá-lo a ter qualquer ensinamento.

Eu não quero a ignorância. Não seriam os ignorantes os primeiros habitantes de um suposto paraíso? Também, a suposta alma seria ignorante?

Concedo-me o direito e o prazer do conhecimento...