Diversas chuvas...

Pode-se ver, ouvir, sentir os pingos da chuva por diversos ângulos. Mesmo quando o meu humor está aguçado, estas visões, sons e sentimentos nunca expressam felicidade, embora lhes confesse que durante este fenômeno natural, me sinto feliz.

A chuva oblíqua é fascinante. Seus pingos formam um desenho futurista com o artista vento movimentando aleatoriamente as suas formas. Há hidrostática sempre que estes movimentos mudam os seus ângulos.

Mesmo parecendo enfadonho e repetitivo, escreverei a palavra fascinante diversas vezes.

A chuva de ângulo reto também é fascinante. Parece que não existe ar, que naquele momento existe apenas a força gravitacional da terra. Não vejo a chuva de ângulo reto como uma obra de arte. Nela, é mais fácil entender o fenômeno natural da chuva.

As tempestades me fascinam, principalmente aquelas acompanhadas de raios, embora confesse um certo medo. É fascinante quando um raio, inesperadamente, sai como um raio das nuvens escuras, e também como um raio desce até encontrar o seu destino. Por vezes até atinge um pára-raios. É fascinante quando muitos raios, estes mais fininhos, se embaraçam desordenadamente no céu. Parece até uma teia de aranha tecida por uma aranha embriagada.

Não sou fascinado pelos trovões. Os sons graves emitidos não têm criatividade, parecendo até uma ópera de uma nota só. Os sons agudos emitidos, também não têm criatividade, embora não se pareçam com uma ópera de uma nota só.

Há um aumento considerável dos decibéis em todos os ruídos produzidos por corpos que cruzam o caminho da chuva. Ouve-se de longe os passos de um menino calçado.

Mesmo sabendo de todos os benefícios, embora aconteçam alguns malefícios, a chuva sempre me reserva um estado de melancolia. Uma tristeza feliz invade todo o meu ser, e até dormir eu durmo, mesmo não querendo dormir, e mesmo dormindo, sonho com a chuva.

“A chuva refresca a alma”. Ela retira do fundo do baú todo o passado. Lembranças esquecidas pela seca chovem no despertar da memória. Cenas marcantes, ou mesmo as cenas inexpressivas saem empoeiradas deste baú, sacodem a poeira e mostram-se nuas à minha realidade.

Durante a chuva, não ouso espantar os velhos fantasmas que aparecem do nada. São fantasmas camaradas e sofrem com a perseguição da seca.

Às vezes, imagino que os pingos da chuva são como um cipó. Tento, inutilmente, agarrar esta planta trepadeira e escalar a atmosfera até apanhar a lua.

Tenho apreço pelas chuvas, mesmo aquelas que me pegam despreparado.