HOJE QUEM FALA SOU EU

“ Tenho várias caras. Uma é quase bonita,

outra é quase feia. Sou o quê? Um

quase tudo” (Clarice Lispector)

Disse-me certa vez alguém muito e muito mais sabido do que eu, e que já não anda mais por este mundo, dele só resta a saudade e o “silêncio de portais”, o seguinte: Zélia, a literatura de entretons, fuga , já era. Hoje o tutano tem se ser expulso, e me mandou à vida.

Não aprendi a lição e se me confesso não me desnudo, não consigo assumir por inteiro as características próprias da ficção feminina, confessional, e aparentemente narcisista.

Sei apenas que escrever é preciso. E sem fôlego para mergulhar fundo, de mim só sei dizer: do que fui, lembranças de sonhos contidos... do que sou, não consigo me encontrar. O ontem vivido é manifesto desejo de revivê-lo hoje, contrariando o crepúsculo em que mergulho sem mais tempo de dar vazão a esses contidos sonhos, que teimam em desconhecer as regras impostas pelo caminhar da vida. Já não me é permitido muita coisa; talvez, um... Reza minha senhora! Humildemente confesso, não sei fazê-lo, de há muito ando às turras com o Senhor lá de cima.

Minha culpa, minha máxima culpa

E neste silêncio de portais, busco palavras de outros e as faço minhas

...Cais, às vezes, afundas

Em teu fosso de silêncio

Em teu abismo de orgulhosa cólera,

E mal consegues

Voltar, trazendo restos

Do que achaste

Pelas profunduras da tua existência

(O Poço –Pablo Neruda)

Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 07/07/2008
Reeditado em 07/07/2008
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