Um papo pra lá de bom

Bater papo com Dona Menô é pra lá de bom, embora ela seja apressadinha, fala e logo já tem que sair. Acho que por causa do Josualdo. Ele deve tomar muito do tempo dela.

Sabe por que digo isso? Ela me pediu para escrever sobre a mulher sueca. Ela deve saber que aqui é o país de origem do feminismo e ainda aqui todas as tarefas domésticas são divididas entre o casal.

Já sei, ela quer que Josualdo aprenda a ajudar nas tarefas domésticas:

"A legislação familiar sueca sempre serviu de modelo para as lutas feministas por ferir sensivelmente a lógica machista, garantindo uma série de direitos às mulheres e oferecendo a possibilidade de os homens assumirem tarefas ditas femininas. Ou seja, muito do que se praticou na Europa do Norte viria a ser considerado uma aspiração da modernidade não realizada de outros países a partir dos protestos de 1968".

Quando visitamos amigos aqui, é comum o homem cozinhar, lavar louca, cuidar das crianças. A mulher sueca até tem um dia para poder sair com suas amigas, sem filhos e marido, para poderem “desestressar”.

...O governo (social-democrático, que rege os destinos do país há 30 anos) afirmava que “a questão dos direitos da mulher deve ser considerada como a função de toda a estrutura do papel imposto ao homem e à mulher por meio da educação, da tradição e da experiência (e, em menor escala, pela legislação).

Se as mulheres devem ter uma posição na sociedade, fora do meio doméstico, os homens têm, consequentemente, que assumir maiores responsabilidades na educação dos filhos e nos trabalhos domésticos".

O que admiro aqui na Suécia é que, além das divisões de trabalho doméstico e educação dos filhos, a maioria das mulheres é idosa e não aceita, em hipótese alguma, preferências.

Eu estava no supermercado com um único produto e uma senhora na minha frente, com o carrinho lotado. Ela me cedeu o lugar e eu rejeitei. Depois percebi que estava sendo grosseira com ela e, mesmo a contragosto, passei na frente. Não existem filas preferenciais para gestantes e nem para idosos, todos são literalmente iguais.

Recentemente assisti a um documentário de uma dona de um hotel no norte da Suécia. Já vi duas vezes: na primeira, com o maridão traduzindo, agora, sozinha, com a ajuda de um dicionário. Se for transmitido no ano que vem, de novo verei, sozinha, sem ajuda de dicionário ou marido.

Esta senhora de 93 anos fora casada com um sueco (ela também sueca). Havia quinze anos o marido falecera, deixando o "Palace Hotel" para ela tomar conta sozinha, porque não tiveram filhos. Ela fazia a limpeza geral do hotel, lavava toda roupa de todos os quartos, cozinhava e administrava a parte burocrática do estabelecimento.

Ao sair de casa para ir ao banco fazer depósitos e pagar as contas, ela fazia o percurso de bicicleta. No inverno ela tirava toda a neve da calçada com uma pá. Valha-me, Deus! Eu acho que não dou conta de fazer isto.

Houve um momento em que não pude crer no que meus olhos viam: a boa velhinha, trepada na janela do terceiro andar do prédio, limpando os vidros. Ela fazia questão de cuidar de tudo pessoalmente, porque achava que ninguém faria tão bem quanto ela (Êta, ego!). Desejava que seus hóspedes fossem bem atendidos.

Ela cuidava do jardim e ainda plantava as batatas e as colhia para serem servidas nas refeições. É mole?!

Para cada cliente que passava pelo seu hotel ela escrevia uma carta. Seus clientes achavam um tanto “engraçada” a sua intenção de conquistar amizades.

Em todos os anos acontecia um festival de música neste local, e era quando seu hotel lotava. Dentre os hospedes, que eram tratados como filhos, ela tinha um preferido - um jornalista inglês, que todos os anos vinha dar cobertura no festival de música. Ela o aguardava ansiosa. Ele tinha um quarto cativo no hotel.

Houve um ano em que ele teve que ir embora com três dias de antecedência e dissera a ela que ia ao encontro da esposa. Embora ele tivesse apenas quarenta anos, ela dizia sentir ciúmes dele. Ela dizia que quando morresse voltaria novamente para ser a sua mulher.

No último festival de música de sua vida ela fora acompanhada por jovens cantores e pelo jornalista inglês. Os cantores que estavam hospedados em seu hotel eram cantores de música "funk". Ela não tinha a menor idéia do que é o estilo de música "funk", mas foi os assistir toda feliz.

Quando aconteciam estes festivais, seu irmão de 86 anos e sua irmã (também de oitenta e tal) vinham para a ajudar, conhecendo seu estado de saúde, mesmo a seu contra-gosto.

Ela brigava com a irmã dizendo que ela não sabia fazer nada direito, mas, esta, conhecendo seu gênio, não ligava para seu falatório.

Esta velhinha tinha um desejo: morrer em seu hotel, do qual era proprietária há quarenta e cinco anos, ou morrer dançando.

Ela planejou uma festa dançante em sua casa, quando conseguiu reunir os amigos e dançou a noite toda. A senhora faleceu três dias após a realização de seu grande desejo.

Eu conheço no Brasil amigas íntimas que não fazem nem um décimo disso porque já estão com sessenta anos, e uma infinidade de frescuras... Vale aí o exemplo desta mulher sueca.

As mulheres daqui, embora consideradas sem vaidades e sem

“feminilidade”, buscam a beleza através de alimentos saudáveis e prática de esportes, como caminhadas, corridas, jogo de golfe, entre outros esportes. É comum ver pessoas na rua com "rolators" (andadores), fazendo caminhadas.

A mulher sueca não costuma fazer as unhas tirando cutículas, para não se machucarem, porque aqui se evita ao máximo se machucar. Somente lixam as unhas e esmaltam. Questionei uma conhecida sueca sobre isto. Ela disse que desconheciam este hábito de tirar cutículas das unhas.

Atualmente estão aderindo à depilação e, principalmente, depilação na área genital. Mas elas são radicais e tiram todo o pêlo; não são como nós, brasileiras, que gostamos do "V".

Cabelos, quase sempre são curtos, e, quando compridos, usam ainda as "maria-chiquinhas" e "duas tranças", bem estilo caipirinha visto nos filmes. E é normal terem cabelos coloridos. Uma cliente nossa foi no restaurante de meu marido, toda feliz, para me mostrar seu cabelo pintado com uma camada azul por baixo, outra de loiro por cima e uma outra de vermelho, contrapondo as camadas...

Meu recadinho para Josualdo:

"Josualdo, seja um homem moderno! Ajude Dona Menô a lavar as loucas, enquanto ela fica com seu “palitinho de laranjeira", cuidando das unhas. Afinal, ela é brasileira e gosta de unhas bonitas. Arrume a cama quando levantar, enquanto ela prepara aquele delicioso café da manhã pra vocês, ou, então, faça você o café e vá paparicá-la na cama. Nós mulheres adoramos paparicos.

Eu lhe confesso uma coisinha: homem brasileiro é mais romântico e mais cavalheiro do que os europeus. Continue sempre “brasileiro” nesta questão...

Com carinho

Gisaonline

Stockholm, 3 de julho de 2008

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gisaonline
Enviado por gisaonline em 06/07/2008
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