ROSA POR UMA HORA

CARÍSSIMOS: Citando Marilia L. Paixão, diria que aqui "nas terras elevadas", encontrei Marílias, |Ângelas, Normas, Sônias, Evelynes, Malus, Vanys, Sandras, Mônicas, Semprebelas, Negas Chagas, Paulas Alvin e também Reinaldos, Cláudios, Reneus, Romildos, FLorêncios, Ricks e tantos, tantos outros talentos que têm me encantado com os seus escritos. Então, resolvi lhes contar uma história,homenageando todos vocês, na pessoa de MARÍLIA L. PAIXÃO, por um motivo especial: ela tem me dado uma força reconhecendo o meu trabalho e tornando público através de suas crônicas este reconhecimento. E, como "inveja sadia" não mata nem incomoda, me vejam na história como a "Violeta" (demonstro assim, a minha "inveja sadia" pelo talento de todos vocês). Sintam-se beijadas e beijados.

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E eu que não entendo nem o porquê do muçulmano fazer xixi de cócoras, vou repassar uma historinha de origem árabe.

Jamil Almansur Haddad, versado em literatura da língua árabe nos informa que os árabes são contadores natos de histórias, têm contos para todas as posições da vida, alegria ou dor, ruína ou fortuna, doença ou saúde. Aliviam as dores contando, aumenta a alegria contando. O conto é o sonho acordado dos árabes.

Vale salientar, segundo Jamil, que para o árabe, o contador de histórias não tem menos valor do que o autor; quem recolhe a história que ouviu poderá narrá-la e o mérito recai principalmente sobre quem contou.

O que se segue é baseado no conto “A Violeta Ambiciosa” do libanês Gibran Kalil Gibran (1883/1931) tradução de Jamil A. Haddad

A Violeta, que não era sindicalizada, não pertencia a nenhum partido político, não fazia parte das hostes de nenhum governo nem tampouco detentora de cargo comissionado, mas mesmo assim era feliz vivendo num jardim solitário, contudo, de uma hora pra outra ficou triste, isto porque numa bela manhã ergueu a cabeça e deparou-se com uma Rosa alta e linda exibindo toda faceira os seus atributos.

Por sentir-se muito próxima da terra e não poder erguer a cabeça até o céu azul ou voltar a face ao sol como as rosas fazem queixou-se a Violeta: “ Como eu sou infeliz em meio a essas flores e como é humilde a posição que ocupo diante delas! Fez-me a natureza para ser curta e pobre...”

E a rosa que era flor que se cheirava riu e comentou: “Como é estranha a tua fala! Tu és feliz, embora não possas compreender tua fortuna. A Natureza dotou-te de fragrância e beleza o que não fez com nenhuma flor... Aparte de ti estes pensamentos, sê contente e lembra-se que aquele que se humilha será exaltado e aquele que se exalta será esmagado.” A Violeta respondeu: “Consolas-me porque tens o que eu almejo... Procuras amargurar-me cada vez mais com a idéia de que és grande...Como é dolorosa a pregação dos felizes para o coração do miserável! E como o forte é severo quando quer ser o conselheiro dos fracos!”

Ouvindo o diálogo entre a Violeta e a Rosa , a Natureza aproximou-se e disse: “ O que te aconteceu companheira Violeta? Fostes sempre humilde e doce em todas as tuas ações e palavras. Será que a ambição invadiu teu coração, embotando teus sentidos?” Numa voz suplicativa a Violeta respondeu dizendo: “Ó mãe grande e misericordiosa, cheia de amor e simpatia, imploro-te com todo o meu coração e minha alma, que atenda as minhas súplicas e permitas que eu seja rosa por um dia apenas.”

Diante das súplicas da Violeta, a Natureza resolveu atender o seu desejo, mas antes fez esta advertência: “Ó Violeta ignorante e revoltada, acederei aos teus desejos, mas se a desgraça cair sobre ti, deveras “. Para depois, estender os dedos misteriosos e mágicos, tocando as raízes da Violeta que imediatamente se transformou numa alta rosa.

Como nem tudo são flores, à tarde o sol resolveu bater em retirada para que as nuvens negras tomassem conta do pedaço e enviassem à terra os elementos raivosos, que em forma de raios, chuva e ventos fortes atacaram o jardim da ex-Violeta, que travestida de rosa não resistiu a tempestade que lacerou os ramos e desenraizou as árvores e quebrou as hastes das flores altas, poupando apenas as pequeninas que cresciam bem junto ao coração da terra.

Não contentando-se diante da Violeta metamorfoseada, derrubada por terra pela tempestade, feito um soldado ferido em um campo de batalha, a rainha das violetas convocou sua família, dizendo: “ Olhai, minhas filhas, e meditai sobre o que a ambição fez à Violeta que se transformou em uma rosa orgulhosa por uma hora. Seja a memória desta cena uma lembrança eterna da vossa boa sorte.”

E a Rosa moribunda moveu-se e reuniu o que ainda sobrava de suas forças, cheia de orgulho, disse: “Vivi por uma hora apenas como uma rosa orgulhosa; existi por tempo feito uma rainha; contemplei o Universo pelos olhos da rosa; ouvi o sussurro do firmamento pelos ouvidos da rosa e toquei as dobras do manto da luz com as pétalas da rosa. Alguma de vós poderá proclamar semelhante honra?” Tendo assim falado, baixou a cabeça e com voz sufocada murmurou: “Agora eu posso morrer, pois minha alma alcançou o seu objetivo. Estendi, finalmente, o meu conhecimento para o mundo que fica além da estreita caverna do meu nascimento. Este é o designo da vida...Este é o segredo da existência.” Então a Rosa extremeceu, dobrou lentamente as suas pálpebras e respirou pela última vez com um sorriso celestial nos seus lábios... Um sorriso pleno de esperança e propósito de vida... Um sorriso de vitória...

Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 06/07/2008
Reeditado em 06/07/2008
Código do texto: T1067230
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