UM CORPO NO ASFALTO.
No asfalto
Estava caído aquele corpo sem nome
Num dia qualquer no passado
Aquele corpo boiava no ventre
Um bebê inocente
Uma criança que nascera
Lá no pretérito gramatical
No tempo que não se conta na estatística
De nossas autoridades governantes
A perícia fazia o seu trabalho
A imprensa o seu
Os curiosos olhavam
Como se ali estivesse
Uma criatura que surgiu do nada
Não era um de nós sucumbindo
À barbárie metropolitana
Ninguém quer ligar o presente ao passado
Para não ser condenado
Pelo genocídio de nossas crianças
Que tanto é de uma criança que morre criança
Quanto de um adulto sem esperança
Que cresceu sem um dia ter sido uma delas.
Morreu, morreu.