DESCANSO PRODUTIVO
Moro em Santos, uma cidade litorânea do Estado de São Paulo, com uma população que já ultrapassou a marca dos 500.000 habitantes, e que é muito procurada por pessoas de outras cidades e de outros Estados para férias, descanso e outras atividades de lazer. A cidade em si, propicia boas promoções desse naipe e na área cultural destaca-se pelos diversos eventos promovidos ao longo do ano, principalmente após a revitalização do Centro Velho, ou Centro Histórico, como é mais conhecido.
Feita essa breve introdução, devo salientar que a cidade também é muito procurada por pessoas que já terminaram suas atividades profissionais após longos anos de trabalho, mudando-se para cá em busca de uma melhor qualidade de vida. Isso é louvável, pois mostra que existe uma preocupação com o viver bem, longe daquela loucura insaciável dos grandes centros urbanos.
Então, sabemos que a pessoa trabalhou a vida inteira, fez jus ao salário que recebeu ou que o salário foi injusto pelo tanto que fez, contribuiu regularmente para o INSS, teve seu FGTS depositado direitinho, conseguiu uma poupança razoável, investiu em um imóvel na praia ou no campo, e partiu para simplesmente curtir a boa vida a que tem direito. Afinal, 35 anos ou mais de trabalho merecem uma recompensa à altura e a aposentadoria é mais do que bem vinda.
E aí é que tudo começa a virar um grande “imbroglio”. Senão, vejamos: homem de 55 a 65 anos de idade (em média), saúde ainda em bom estado, plena capacidade de produzir – seja na sua atividade profissional, seja em outra nova atividade –, capacidade mental preservada, mas o que acontece? Considera-se no pleno direito de não fazer mais absolutamente nada, encostando o corpo no primeiro barranco que aparece pela frente, recebendo seu benefício do INSS religiosamente no dia certo, e não fazendo outra coisa senão o famoso “nada”. Aí, vai pra pracinha jogar dominó ou baralho com seus pares, fica andando de ônibus municipal pra lá e pra cá, pois a passagem pode ser de graça e também porque não tem o que fazer, fala mal dos outros e uma infinidade de outras bobagens, quando, pior, não fica em casa atazanando a vida da pobre mulher que já não sabe mais o que fazer com ele, dando palpites absurdos em tudo que é assunto, metido naquele indefectível pijama listrado. Um verdadeiro circo dos horrores. E ainda acha ruim quando dizem que está na terceira idade, pois abomina este termo.
Antes que me acusem de insensato, devo dizer que tenho 58 anos, sou aposentado do INSS e recebo meu benefício religiosamente em dia. Portanto, entendo um pouco desse negócio de “ser aposentado”, ou melhor dizendo, “estar aposentado”. Sim, porque você pode “ser” aposentado ou “estar” aposentado, o que é bem diferente. No “estar” você já cumpriu seu papel profissional ao longo dos anos, mas continua em atividade, produzindo, dando o melhor de si em vários segmentos, como uma atividade voluntária, por exemplo. E o mais importante, sem aquela neura de horários, de acordar com os galos, sair de casa ainda de madrugada, chegar à noite e só ver a luz do dia com alegria ao chegar seu dia de folga. No “ser”, você simplesmente é, e ponto final.
É a isso que me refiro neste texto. Não consigo entender quem consegue passar seu dia inteiro sem fazer nada de útil, de produtivo, de benéfico, num ócio total, simplesmente esperando o tempo passar. Lembro-me de uma frase dita pelo patriarca das Casas Bahia, Samuel Klein, em uma entrevista concedida há alguns anos atrás. Disse ele: “O homem ao acordar, tem que ter para onde ir”. Essa virou para mim uma frase de cabeceira e procuro segui-la ao pé da letra.
Seja um voluntário ou um colaborador eventual, por exemplo. Existem muitas entidades que necessitam de pessoas que possam dedicar algumas horas por semana em prol do bem. Você pode até colaborar com seus conhecimentos profissionais nesses lugares. Ou seja apenas um colaborador financeiro, um assessor, ou simplesmente alguém presente com seu amor e seu carinho.
Colabore sempre, participe da sociedade, trabalhe em benefício de todos, liberte-se de sua pasmaceira, seja útil e se entregue à vida produtiva. Afinal, nossa idade e nosso tempo não estão apenas no calendário, mas na forma como pensamos e agimos.
Não fique parado, acéfalo, à margem da vida e dos anseios daqueles que ainda o vêem como alguém capaz de fazer a diferença.
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